FLEXI-PRECARIEDADE

CALL CENTER’S E OS REAIS EFEITOS DA FLEXIGURANÇA

O Modelo económico reivindicado há muito pelas entidades patronais, e, em especial, pelas multinacionais aparece agora associado ao conceito de Flexigurança. Podiam ter-lhe dado qualquer outra famigerada designação porque os argumentos enganosos, mas pormenorizadamente estudados, para a sua implementação seriam exactamente os mesmos: competitividade na economia global, maior possibilidade de adaptação das empresas aos novos desafios, sustentabilidade financeira das empresas, possibilidade de as pessoas podem trabalhar nos turnos que mais desejam, conciliação entre a vida familiar e profissional. Enfim, todo um sem número de fantásticas e boas intenções.

Mas afinal, o que significa na prática a tão desejada implementação da Flexibilidade laboral?

Considero que os Call Center’s têm servido, pelo menos, ao longo dos últimos 6 a 7 anos como laboratórios de ensaio do modelo que os últimos Governos e as entidades patronais pretendem aplicar a todas as áreas laborais tanto no sector público como privado.

A necessidade dos operadores – tanto da rede fixa como das redes móveis – terem um Serviço de Apoio a Clientes permanente e qualificado, deveria ter sido motivo para investirem em formação qualificada, estabilidade contratual com implementação de carreiras profissionais e ordenados dignos.

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Nos primeiros anos @s trabalhador@s ainda se iludiram com as promessas de que se se esforçassem, conseguiriam atingir os seus desejados anseios profissionais. Hoje, já tod@s chegaram à conclusão de que é praticamente impossível ter-se uma carreira profissional num Call Center. Mais do que isso, é impossível sonhar-se com um ordenado digno e cada vez mais difícil ter-se um contrato minimamente estável.

@s efectiv@s, estão literalmente a ser encostad@s entre a espada e a parede, com as mais variadas formas de pressão psicológica de forma a despedirem-se, livrando assim as empresas da necessidade de lhes pagarem uma indemnização. As depressões e esgotamentos são cada vez mais uma realidade desta população.

A subcontratação através de Outsourcings, Empresas de Trabalho Temporário, e, mais recentemente, a Recibos Verdes é a única possibilidade de se conseguir um emprego no Contact ou Call Center.

O nível de escolaridade é médio e alto, indo do 11º até aos Licenciad@s e Doutorad@s, nas mais diferentes áreas. Contudo, os ordenados são extremamente baixos. O valor hora raramente ultrapassa os 2,5 euros. O Ordenado tem vindo a ser reduzido devido à concorrência entre ETT´s e Outsourcings para ganhar os concursos nos grandes clientes nacionais (Operadoras de rede fixa e móvel, Banca, Televisão por Cabo e Internet). Os prémios, agora mais reduzidos, têm cada vez mais condicionalismos.

O modelo da Flexibilidade tem sido testado a todos os níveis nos Contact e Call Center’s, notando-se claramente os seus efeitos negativos: os Contratos Individuais de Trabalho têm cada vez mais designações como: “horário de trabalho entre as 08h e as 24h”; “o colaborador aceita trabalhador por turnos com o ordenado base de…”; “a colaboradora aceita trabalhar em qualquer zona onde a empresa tenha representação, com a remuneração de…”.

A Flexibilidade em Portugal vai resumir-se, portanto, à possibilidade de uma empresa contratar quando deseja, despedir quando entender, pagar o ordenado que quiser, usar e abusar da disponibilidade dos trabalhadores, exigir a execução do trabalho no horário que lhe for mais conveniente sem olhar à vida familiar ou qualquer outro direito d@s que trabalham.

Por seu lado, a tão propagandeada Segurança, aplicar-se-á apenas ao patronato. Prova disso são os maravilhosos contributos do Governo de Sócrates: a lei aplicada @s desempregad@s, que passaram a viver quase em prisão domiciliária e com a obrigatoriedade de provarem que estão a fazer o impossível para conseguir um qualquer trabalho; reestruturação da IGT e IDICT, não para agir mas par fingir que se age; a recente redução de juízes do trabalho que vai tornar a justiça laboral, ainda, mais lenta.

O que fazer?

Se cada um de nós recusar este modelo laboral, contestando-o no local de trabalho, em casa, na conversa com os amigos e nas ruas, de certeza que ele não avançará. Mas se nos conformarmos com as palavras do Ministro do Trabalho “não há alternativa, a Flexigurança é para ser implementada”, amanhã estaremos tod@s a lamentar o facto de não a termos combatido a tempo!

Rui Beles Vieira

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