Isabel Stilwell e Eduardo Sá defendem Danone e acusam jovens de ser “pobres e mal agradecidos”

A edição de hoje, dia 20 de Março, do programa “Dias do Avesso”, na Antena 1, difunde a indignação da jornalista e do psicólogo perante a polémica dos estágios na fábrica da Danone em Castelo Branco. A empresa “oferece” iogurtes aos estagiários que recruta nas universidades, o que gerou uma onda de indignação nas redes sociais. Os intérpretes desta rubrica da rádio pública acham que criticar os estágios não remunerados é uma “atitude arrogante” por parte de jovens cujo problema é que “os pais e a escola ainda não os puseram no lugar”. A conversa pode ser ouvida na íntegra aqui.

DiasDoAvesso

A reportagem na RTP, que irritou Isabel Stilwell por ter “para aí 10 minutos”, é uma peça de 2:19 exibida no passado domingo. Eduardo Sá acusa os jovens de falta de humildade e de pertencerem a uma geração que “imagina ter um valor facial muito mais significativa do que aquilo que de facto vale”. É uma frase que, só por si, esclarece a visão do mundo que produz a acusação contra quem acha que o pagamento em géneros não é uma cortesia de empresas multinacionais que, apesar dos milhões de lucros, recorrem à rotação de mão-de-obra qualificada através de estágios não remunerados.

O próprio Eduardo Sá, que acha que as pessoas devem “esfolar os joelhos” para ter direito a trabalhar, explica qual o esquema dos estágios curriculares: “quando eles começam a ter alguma autonomia vão-se embora”. Obviamente, esta opção não é filantropia nem um erro de gestão. A Danone, como outras empresas, procura activamente junto das universidades o recrutamento contínuo de estagiários supostamente “curriculares”. A “oportunidade de aprendizagem”, que o psicólogo considera que deveria merecer a gratidão dos estagiários, é portanto uma estratégia de recrutamento e utilização de mão-de-obra qualificada. Isabel Stilwell prefere queixar-se que esta operação desenhada pelas grandes empresas lhes “dá imenso trabalho”.

A conversa é uma vertiginosa defesa da precariedade e da submissão de quem trabalha. A acusação de falta de humildade esbarra, além do mais, no preconceito e na arrogância. Esta jornalista e este psicólogo (!) olham para toda uma geração como um corpo de gente que é levada pela sobranceria ao recusar a precariedade, o desemprego e o exílio. O quotidiano de dificuldades só pode mesmo ser um mundo de virtudes para quem as observa à distância e sob a protecção de um microfone.

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