Miguel Macedo demite-se. Três anos depois, o governo continua a rastejar

As demissões de ministros já não são notícias neste governo. Os escândalos também não. Trata-se de um processo de degradação da governação sem paralelo na história do pós-25 de Abril. Miguel Macedo demite-se na sequência das detenções por corrupção de directores da polícia num esquema envolvendo os “vistos gold”, da iniciativa do vice-primeiro-ministro Paulo Portas. O governo continua a rastejar destruindo tudo no seu caminho.

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Miguel Macedo demitiu-se ontem, depois de se intensificarem as investigações acerca do esquema de corrupção que implicava a oferta de vistos e cidadania a estrangeiros, desde que investissem pelo menos 500 mil euros no país. Um ministro da Administração Interna envolvido em corrupção, na qual estão implicados serviços de imigração, de registos e notariado e serviços secretos, que se demite, seria razão para qualquer governo tremer e estar em causa o seu futuro. Não é esse o caso com o actual governo, que há muito se vê acossado, envolvido em corrupções, suspeitas, descredibilização social, política e pública.

Neste governo demitiram-se Miguel Relvas, no escândalo acerca da sua licenciatura, Vítor Gaspar, Paulo Portas (que foi recompensado com uma promoção) e Miguel Macedo. Não se demitiu Nuno Crato, que continua activamente a destruir a escola pública, depois de ter impedido o ano lectivo de começar semanas a fio, provocando sucessivos erros na colocação dos professores pelo país, situação até hoje não resolvida. Não se demitiu Paula Teixeira da Cruz que, depois de ter fechado mais de metade dos tribunais do país, atirou a justiça para a maior confusão de sempre com o sistema Citius, que efectivamente parou todos os procedimentos judiciais e a vida de milhares de pessoas no processo, e que de seguida acusou publicamente funcionários de sabotagem, apesar dessa falsa acusação ter sido rapidamente arquivada. Não se demitiu Rui Machete que, além de ser um ex-administrador dos bancos BPN e BPP e ter apagado isso do seu currículo, mentiu no Parlamento, pediu desculpas a Angola por investigações judiciais em Portugal e revelou informações secretas acerca de cidadãos portugueses. E não se demitiu Pedro Passos Coelho quando foi descoberto que recebia dinheiro de fontes diversificadas enquanto era deputado, nomeadamente de uma empresa para a qual “abria todas as portas” no Parlamento. Para não falar no facto de ter aumentado a precariedade de forma gritante, nos níveis inéditos de desemprego e na maior emigração de que há memória, nas inconstitucionalidades em todos os orçamentos de Estado e na destruição do país.

Tudo isto seria muito grave se estivéssemos a tratar de um governo. Mas já há muito que não é disso que se trata. É algo que rasteja, se arrasta, mas teima em não morrer.

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