O lado negro das Startups. Estudo de caso: Chic by Choice

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Recebemos este testemunho, que aqui reproduzimos na integra:

«Estamos constantemente a ouvir falar de startups e empreendorismo, mas existe um lado negro de que não se fala: o lado da precariedade.

A Chic by Choice, especialista em aluguer de vestidos de alta costura, é uma dessas startups maravilha que se farta de ganhar prémios (o prémio de melhor startup europeia na área da moda, por exemplo) e receber investimento, mas que mantém os seus cerca de 20 trabalhadores em situação precária: cerca de 5 são estágios e o resto está a prazo, fora as duas fantásticas empreendedoras. E o facto de ter tido um crescimento de 200%, no último trimestre de 2015 e de continuar a crescer, não abriu olhos para a necessidade de contratar mais empregados para fazer face ao aumento de volumes de trabalho.

Um pouco por todo o lado no mercado laboral, mais trabalho e responsabilidades acrescidas não se reflectem em aumento salarial ou revisão dos termos do contrato. Um costume que tem vindo a crescer e que foi adoptado por muitas startups, onde esta se inclui. Na Chic by Choice, podes tentar negociar, mas podem sugerir-te um aumento não declarado, pago “por debaixo da mesa”. Aqui, os contratos que não se alteram, nem se actualizam e podem nem ser assinados entre as partes. É também possível que existam irregularidades com os seguros de acidentes de trabalho e seguros de saúde. Horas extra por pagar fazem também parte desta realidade. Não existe mapa de férias e o que existe é pressão: ou para não tirar férias; ou para dar uma mãozinha nas férias; ou para trabalhar mesmo quando se está de baixa. Quando neste último caso, a baixa depende de ordem médica e até é paga pelo Estado.

Num ambiente assim, é fácil virar os trabalhadores uns contra os outros, alegando que as férias ou a baixa de um sobrecarrega os outros colegas. Isto só serve para dividir os trabalhadores e colocá-los sobre pressão extra.

Esta mesma startup, feita de lucros ganhos à custa da exploração laboral e que tanto investimento português recebeu vai agora mudar uma parte do seu negócio para o Reino Unido, porque é mais vantajoso. Prática comum esta de sair de Portugal ou de vender a um dos muitos investidores estrangeiros que encaram este negócio do empreendorismo como um casino onde se aposta para ganhar.

Esta e tantas outras empresas crescem adoptando regimes laborais precários e que em nada valorizam os trabalhadores. Neste mundo das startups ninguém denuncia injustiças ou irregularidades, porque o empreendorismo é bom e recomenda-se; e porque o medo de ficar sem trabalho é maior num país em que há mais procura que oferta.

No caso, esta startup como tantas outras que existem em Portugal beneficiam de apoios e incentivos de fundos nacionais e europeus e continuam a beneficiar mesmo sem cumprir as leis e as regras laborais. Alguma coisa tem que mudar, se as empresas não mudam, mudamos nós!»

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