Testemunho | Recibos verdes Centro de Medicina de Reabilitação – Rovisco Pais

rp0A Enfermeira Maria Augusta Nogueira escreveu um comentário no post onde publicámos a denúncia sobre mais de 80 pessoas a falsos recibos verdes no Centro de Medicina de Reabilitação – Rovisco Pais.

Pela sua importância, publicamos este comentário como post:

«Sou uma profissional de saúde da zona norte, mas infelizmente conheci esta realidade como acompanhante do meu único filho que teve um acidente de viação do qual resultou um TCE grave.

Como ainda não havia centro de reabilitação no norte, o meu filho foi transferido para esta instituição, como sendo a melhor para o meu filho. Eu conhecia algumas realidades, fui professora numa escola de enfermagem, e inicialmente acreditei. Mas a medida que o tempo passava, não via alterações no estado do meu filho e comecei o ver de olhos bem abertos, também já estava numa fase em que já via as coisas com mais lucidez, porque ninguém faz ideia do que é receber uma notícia destas.

Como se podem prestar cuidados de qualidade com menos de metade dos profissionais necessários e ainda por cima numa precariedade de emprego como se pode ver. Se as pessoas não são valorizadas e respeitadas como podem cuidar de doentes com este grau de dependência física e psicológica, assim como os familiares.

Os profissionais para além de trabalharem nestas condições ainda eram coagidos, ameaçados sistematicamente com o despedimento por parte dos directores de serviço e enfermeiros chefes.

É uma instituição pública, não tem desculpa, as ordens profissionais têm conhecimento e nada fazem, os sindicatos a mesma coisa, a ARS centro a mesma coisa, sabem porque? Nunca estiveram internados nem tiveram lá familiares, mas se os tivessem também seriam cunhas e essas são priviligiadas.

Ainda hoje a televisão noticiou que morrem mais pessoas de infecção hospitalar(associada aos cuidados de saúde), claro, as comichões de controlo de infecção ou naoexistem, como nessa instituição,ou não funcionam.

Quando foi internado o meu filho foi perguntado se estava contaminado, pois tinha estado numa UCI, porque não aceitavam doentes infectados ou colonizados, concordo, ma soque eu vi lá foi muito diferente, recebiam doentes infectados, por norma cunhas da diretora do serviço, não tinham isolamento, nem meios nem usavam medidas de precaução de segurança, logo doentes infectados. Infeções urinárias eram seguramente 40%.

O objectivo destes doentes e reabilitar e ajudar a autonomizar. Nada, não se reabilita um doente destes em meia hora por dia, que deveriam ser continuados os cuidados de reabilitação no serviço por parte de enfermeiros de reabilitação, nada.

No serviço de reabilitação geral de adultos, onde estava o meu filho, tinha um ginásio para os mais dependentes, os mais autônomos iram para o ginásio grande. Nesse ginásio dos mais dependentes eram seguramente 15 doentes entre a manhã e à tarde, para uma fisioterapeuta, quase sempre sem assistente operacional para colaborar.

Como pode um fisioterapeuta trabalhar homens de 1,86, completamente dependentes e sozinho. Claro que iam para o ginásio e nem saiam da cadeira de rodas, constatei depois de dois meses isso, a partir daí, contra a opinião da diretora do serviço passei a acompanhar o meu filho. Ou seja, em dois meses sem fazer nada perdeu tudo o que tinha recuperado em Braga.

Eu virei a instituição, recorri as várias instâncias e nada. São estes os serviços de saúde, que o Sr. Dr. Lains, vice presidente da associação internacional de fisioterapia, como serão os outros serviços.

O meu filho recuperou em casa, com técnicos de todas as áreas , de manhã e de tarde, sábados e domingos. Fui eu que o pus a comer pela boca, assim deixou a PEG. Não tem uma política de familiares como parceiros dos cuidados, quando os doentes têm alta, os familiares não sabem cuidar, porque nunca vi preocuparem-se com essa área.

Os médicos em vez de observarem os doentes em contexto de trabalho, observavam num gabinete, colocavam os doentes em fila comocarneiros, assimpassavam uma manhã sem reabilitação.

Como havia três serviços, havia três dias em que os médicos estavam nessas pseudo-visitas médicas. Se não tivesse passado por isto não acreditava. Ninguém se preocupa com o estado psicológico dos familiares, se questionam, são considerados inimigos. Não desejo a ninguém.

Havia alguns bons profissionais, mas que tinham que obedecer a ordens de mentecaptos. Alguns eu trouxe no coração, mas muitos mais, sobretudo os médicos, preferia não os ter conhecido»

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