12 de Maio, dia da enfermeira e do enfermeiro. Dia de revolta
Em Portugal nos finais do século XIX, nos hospitais, quem prestava cuidados de enfermagem eram empregadas, mal remuneradas e sem preparação específica, trabalhavam 24 horas por dia, estavam ao serviço do hospital e tinham inúmeras tarefas: vigiavam os doentes, davam-lhes banho, comida, terapêutica, faziam camas, assistiam à visita médica (para fazer o relatório de como o doente se encontrava), faziam pensos e conferiam material cirúrgico e roupas.
Hoje é tudo cada vez mais parecido com o século XIX.
Há entre os profissionais de enfermagem quem assuma já ter trabalhado de graça. Há cada vez mais a trabalhar em regime de prestação de serviços e sem contrato. Os estágios não remunerados são o habitual no curso de base e na especialidade.
O desemprego afecta mais de 65% e mais de 6500 dos 10.089 profissionais em serviço estão em situação precária.
Quem trabalha fá-lo por um ordenado de base de 1020 euros, o que com descontos fica por volta de 800 euros por mês. Para poder ganhar mais um pouco e o ordenado chegar aos 1000 euros, optam por trabalhar sobretudo nos turnos da noite e nos fins-de-semana. Desta forma a precariedade instala-se na vida deixando a pessoa sem tempo livre para viver.
Juntar dois turnos, manhã e tarde ou tarde e noite, é das poucas alternativas que existem para ter um fim-de-semana livre. Tendo em conta que em muitas unidades hospitalares uma enfermeira chega a tratar sozinha de vinte doentes por turno, fazer dois turnos converte-se num trabalho árduo não apenas pelo número de horas.
A saída de muitas centenas para o estrangeiro, face à precariedade e más condições oferecidas em Portugal, contrasta com a necessidade destes profissionais nos hospitais portugueses. Segundo um estudo da Administração Central de Sistemas de Saúde, realizado há dois anos em 50 hospitais, se o rácio enfermeira-doente fosse respeitado, seriam necessários mais 3500 profissionais naquelas unidades de saúde.
O dia 12 de Maio é um dia de protesto e de revolta, por cuidados de saúde de qualidade universais e gratuitos, que não são possíveis sem profissionais motivadas/os e com um salário digno.
Adriana Lopera – enfermeira
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