12 de Março

12 de Março de 2011. Há exactamente um ano atrás, centenas de milhar de pessoas encheram as ruas de várias cidades no país e no estrangeiro. Pelo menos meio milhão de pessoas juntou-se num grito colectivo e inédito, que protestou contra a precariedade e reclamou o futuro, que demonstrou o cansaço acumulado em décadas de políticas desenvolvidas contra e à margem da população: um mar de gente, várias gerações fartas de viver à rasca. Hoje celebramos o primeiro aniversário duma extraordinária mobilização que já entrou na história da democracia portuguesa. Por isso, deixamos aqui o merecido reconhecimento a quem a convocou e reafirmamos o sentido da nossa adesão, desde o primeiro momento.
Revisitamos as primeiras palavras que aqui escrevemos logo a seguir à manifestação e recordamos a emoção e a força colectiva que sentimos. Entretanto, muita coisa aconteceu durante este ano intenso que agora nos parece tão longo: assistimos no mundo a lutas e mobilizações históricas, desde a primavera que se anunciou no mundo árabe até à indignação que invadiu as praças um pouco por toda a Europa e todo o Mundo. E sabemos que hoje são certamente ainda mais radicais as razões que reclamam respostas colectivas e que, por isso, precisamos de tornar mais presente e mais forte a energia que descobrimos a 12 de Março.
Neste último ano manifestámos, acampámos, parámos para avançar, mobilizámos para propostas alternativas ao abismo da austeridade, estivemos com muita gente em momentos e processos que desafiam o massacre da crise e dos seus fanáticos ideólogos, confirmámos como se multiplicam energias quando encontramos caminhos comuns e negamos individualismos e fechamentos. Porque esta força pode mudar, decidimo-nos a uma grande mobilização por soluções concretas, que juntou milhares de pessoas por uma Lei Contra a Precariedade, uma proposta de cidadãos que em breve será votada na Assembleia da República. Aderimos e participamos na Auditoria Cidadã à Dívida Pública, promovemos a democracia como forma primeira de melhorar a vida das pessoas.
É hoje claro que a austeridade ganha a forma de um regime autoritário que se instala e faz milhões de vítimas, proclamando a inexistência de alternativas enquanto tenta destruir os laços sociais que unem os cidadãos e as cidadãs. O plano em marcha é portanto duplamente brutal, porque não só querem levar-nos o que durante décadas várias gerações de trabalhadores e trabalhadoras construíram, mas ambicionam também roubar-nos a esperança e convencer-nos que temos de ser espectadores obedientes do retrocesso.
O 12 de Março não exigiu apenas mais democracia, agendou vários significados da democracia que nos têm sido negados – no trabalho e em todas as dimensões da vida. Só a mobilização cidadã, vencendo o isolamento e avançando na capacidade de organização, pode enfrentar o sequestro do nosso futuro e descobrir as necessárias alternativas ao descalabro actual. Como sempre, centramos a nossa resposta na acção colectiva, e sempre que que não existirem soluções imediatas, nós estamos disponíveis para inventar uma nova, sempre que já existir uma solução de organização e intervenção, nós estaremos lá e dela queremos fazer parte. Nada é inevitável.
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