2 de Março de 2013 – Que assim o povo Ordena!

549809_542491519105671_531569922_nÀs 18h30 num Terreiro do Paço cheio, o cantor Francisco Fanhais – que gravou a primeira versão da Grândola com Zeca Afonso – deu o tom, e todo o país a uma voz cantou consigo, pedindo de seguida a demissão deste governo e o regresso da democracia ao país.

Uma expressão contundente da vontade da população, com uma manifestação que superou a de 15 de Setembro em mais que um aspecto, nomeadamente no seu conteúdo político, que não poderia ter sido mais claro do que a Moção de Censura Popular lida momentos antes.

Temos o azar de viver neste tempo de todas as misérias paridas pelas decrépitas elites do velho mundo. E temos a sorte de viver neste tempo em que as gentes, frente a tamanha adversidade, mostram quanto são dignas, fortes e desafiadoras!

O desvio feito nos dias seguintes à manifestação para uma estéril discussão de números em nada poderá tirar o impacto de ter as ruas de Lisboa cheias, desde o Marquês de Pombal até ao Terreiro do Paço, de ter as ruas cheias no Porto, de ter as ruas cheias em Coimbra, em Viseu, em Aveiro, em Beja, por todo o país e em muitas cidades fora dele, verdadeira massa humana que simboliza um campo social disponível para lutar e para reivindicar-se de uma vida melhor, de uma vida digna, e de agir segundo essa reivindicação.

Um campo social que junta o “orgânico” ao “inorgânico”, pessoas em nome individual, associações, organizações sindicais e políticas, profissionais de todas as áreas, gente de todas as idades na procura dessa vida digna. De uma vida que rejeita o novo regime social implementado pelo Governo e pela Troika. Naquela que terá sido a maior manifestação da história da Democracia em Portugal o povo falou e foi claro.

A legitimidade deste governo não passa da porta da formalidade, e mesmo aí treme perante uma tal “votação com os pés” como foi a manifestação. O concreto indica que a força popular se opõe à devastação social, contra o desemprego, a precariedade, a pobreza e as desigualdades que significam as políticas da troika.

Como referiu o sociólogo Boaventura Sousa Santos logo no rescaldo da manifestação “se não houver consequências deste protesto, a democracia em Portugal não existe”.

O governo não pode decidir mais austeridade, pois, apesar de se ter retraído de avançar com cortes antes da manifestação, ela foi ainda assim massiva e superior a todas as anteriores. Os cortes de 4 mil milhões de euros no Estado Social foram chumbados pelas pessoas nas ruas e a exigência do fim do regime de austeridade é a bandeira comum do povo português. Porque esta vontade popular é o contrário do seu projecto e programa o governo não pode mais continuar e a troika tem de sair do país.

O morto-vivo que era desde 15 de Setembro tornou-se um cadáver a 2 de Março.

Obviamente, estão demitidos. Que o povo assim o ordena.

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