Desemprego: 20 anos de decadência irreversível
O FMI divulgou hoje o seu relatório anual sobre a Europa. Segundo o mesmo, Portugal demorará 20 anos a poder voltar a ter uma taxa de desemprego similar à de 2008, quando eclodiu a crise financeira. A destruição de emprego veio para ficar e para manter uma elevadíssima pressão sobre a população para aceitar empregos cada vez mais precários e mal-pagos. A crise financeira continua a ser paga por quem trabalha e continuará a sê-lo enquanto as forças políticas que comandem a Europa estejam declaradamente ao serviço da estabilidade financeira e contra o interesse das populações.
Portugal e a Itália são os países apontados como mais evidentemente afectados pelas políticas austeritárias que se vocacionam principalmente para transferir a riqueza de quem trabalha para quem especula. 2035 é apontado como o ano em que será possível Portugal poder voltar a ter um desemprego abaixo dos 7%. Mas a maior parte da União Europeia encontra-se em situação similar. A decadência da Europa no momento actual aponta no entanto para cenários muito mais graves do que aqueles apontados pelo FMI. Enquanto se constroem muros na Hungria ou se banem os partidos de esquerda na Ucrânia, a Alemanha acelera a machadada final na Europa.
No centro, o emprego, sempre o emprego. Estruturante para a vida colectiva, a base que permitiu a emergência da democracia, dos Estados Sociais, dos direitos iguais entre cidadãos, o emprego está sob o mais feroz ataque de sempre. As principais armas de arremesso contra o mundo do trabalho são a precariedade e o desemprego, parceiros para a degradação social colectiva. A manutenção de níveis de precarização e desemprego nos seus níveis actuais levará a um corroer acelerado das fundações da sociedade. Substituindo solidariedade por competitividade, substituindo equidade por estratificação, o futuro que existe pela frente será de miséria e de conflito. Urge mudar de rumo para que possa haver um futuro.
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Os profetas do Apocalipse vulgo FMI, companhia e afins, continuam em alta. Ditam (sim, como numa ditadura…porque é o que isto é) ou como numa religião fundamentalista, que as profecias se vão realizar e que estamos todos condenados ao “purgatório”, e que nada há a fazer senão baixar as cabeças e resignar, pois se eles, deuses dos nossos destinos, cujo ceptro são os desaires da moeda, o ditam, é porque vai mesmo acontecer e não adianta resistir, pois milhões de sonhos estão perdidos. Eu gostaria de acreditar que nós humanos, neste século e neste ponto, teremos capacidade para destruir este mito tornado premissa e criar novas formas de sustentabilidade. Gostaria de acreditar que o paradigma tem de mudar. e que vai mudar. E no entanto vejo-me aterrorizada de que seja de facto uma condenação atroz a aceitar a precariedade como irreversível e os maus empregos, mal pagos e com péssimas condições, sob a ameaça da ausência de alternativas, aceitar como derrota dos nossos sonhos e projectos a máquina . Em pleno século XXI e ouvir profecias flamejantes como esta, é absurdo, obsoleto, nojento – em 20 anos, nada vai mudar? Agora que o palco está montado, começa a chacina como se estivéssemos no Coliseu dos gladiadores a ser palco de um massacre inquestionável?. Assusta, aterroriza, indigna, desespera. É imperdoável que estes supostos génios da economia estejam, do alto dos seus tronos, a usar este argumento da irreversibilidade do cataclismo económico para nos condenar a resignação e aceitação do dogma que é tão mau ou pior que os dogmas fundamentalistas das verdades absolutas. É este um século de progresso e fim de paradigmas enrugados e envelhecidos perante uma condenação inevitável ou será capaz o génio humano, por assim dizer, de reformular estratégias e formas de encontrar sustentabilidade e verdadeira evolução, ou é somente o fim inquestionável da capacidade civilizacional, da democracia e da dignidade humana?