2010 :: ano de intensificação da organização e da luta social em Portugal

Em 2010 as condições de vida da maioria da população foram agressivamente degradadas pelo ataque à Segurança Social. A exploração laboral, os baixos salários e a precariedade avançaram. Todas as medidas foram introduzidas com o acordo dos dois maiores partidos nacionais sob um signo de inevitabilidade e inexistência de alternativas políticas e projectos sociais para combate à crise. A resposta à crise tornou-se na austeridade sobre quem tem menos salvando quem sempre teve mais.

Perante um cenário de desagregação social e precariedade, o PI procurou juntar  ideias e força com o máximo de organizações de trabalhadores. Como consequência, participámos na luta conjunta em diversos casos concretos, com sindicatos ou comissões de trabalhadores, com a CGTP ou com os professores das AECs, com os trabalhadores organizados através da Comissão de Trabalhadores das Páginas Amarelas ou com o SPGL. Reunimos força com as profissionais do regime de amas, da APRA, no enfrentamento dos falsos recibos verdes patrocinados pelo patrão Estado. Esses momentos criaram ligações, enfrentaram desconfianças e descobriram a determinação conjunta para contrariar a proposta dominante. O consenso entre patrões e governo enfrentou em 2010 mais capacidade de união no conjunto do movimento de trabalhadores.

O ano de luta quase termina com uma Greve Geral. Esta, foi transformada pelas organizações de trabalhadores na greve de todos para todos: os que podiam e os que não podiam nela participar devido à sua condição precária de trabalho ou de vida. A greve foi vitoriosa para os trabalhadores, mas apenas um início na obtenção de conquistas (assim já o sabíamos). Pela primeira vez numa greve, os trabalhadores precários saíram da sombra e levantaram a voz para denunciar a exploração e chantagem no local de trabalho. Foram evidentes a chantagem e a impunidade com que os patrões se relacionam com os trabalhadores, nomeadamente os precários.  Da FNAC aos Call-Centers da PT (PTContact), as administrações ameaçaram não assinar contratos com quem fizesse greve, ameaçaram obrigar a compensar a empresa de forma ilegal e remunerar essa compensação abaixo da lei. Ficou sublinhada a importância do envolvimento dos movimentos de trabalhadores precários numa Greve Geral, e assim fez o PI, pela primeira vez. Num caminho de mobilização que decidimos aberto a quem connosco quisesse estar, fixámos e distribuímos propaganda, organizámos e participámos em piquetes, próprios ou com sindicatos. Aprendemos com a greve e com quem estivemos.

Pouco mais de um mês depois, o Governo e os patrões, investidos da maior arrogância, rasgaram o compromisso que assumiram em 2006 com os trabalhadores que menos ganham, e recusaram cumprir a sua própria palavra não aumentando o Salário Mínimo Nacional no valor previsto. Decidiram nem sequer cobrir o aumento da inflacção.

2011 entrará agressivo para quem trabalha. A precariedade será a condição inevitável para a estratégia de quem quer participar da organização de trabalhadores, sejam movimentos, comissões de trabalhadores ou sindicatos. Para uma realidade extraordinária de retrocesso social, as organizações devem responder também de forma extraordinária.

Em 2011 estaremos na rua, seremos mais, com mais força e em mais locais. Não apoiaremos acordos encenados entre patrões e trabalhadores explorados, e denunciaremos quem rouba as opções das pessoas, a democracia  no local de trabalho e ainda se alimenta da pobreza dos outros.  Até já.
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