30min/dia grátis: Governo de Passos Coelho sacrifica a democracia no frete a uma economia do século XIX

“É preciso ser responsável”. “É preciso escolher se queremos uma economia e um país equilibrado ou o desequilíbrio que vivemos por estarmos acima das nossas possibilidades”. “Escolhemos fazer o mais difícil para o bem dos Portugueses”. “A Europa tem de continuar a dar passos decisivos no combate à crise”. 

É com este tipo de frases, com as quais a maioria dos cidadãos poderá facilmente concordar, que vão sendo acomodadas politicas autoritárias. Trabalhar gratuitamente mais meia-hora diária ou acumular esse período para trabalhar de forma gratuita um sábado ou feriado, é a afirmação do poder político e económico da conquista do poder absoluto de decisão contra a maioria das pessoas. Com esta medida, Passos Coelho e Paulo Portas, tentam provar aos cidadãos que a voz, a sua maioria, as suas manifestações e demonstrações de insatisfação, não servem e não são úteis. Pretendem derrotar os cidadãos e todas as formas de afirmação da democracia.  A democracia em si não é respeitada pelo governo de Portugal. Se fosse, medidas desta amplitude teriam sido anunciadas antes das eleições e debatidas nesse período. Passos Coelho e Paulo Portas mentiam nessa altura sobre a amplitude do seu programa político com todas as suas forças, apenas para tomarem o poder. E conseguiram, com desprezo pela vida da maioria dos cidadãos.

Mesmo que as medidas sejam destrutivas para a maioria, eles aplicam-nas e não as debatem nem aceitam debater medidas alternativas. Mesmo que o país reconheça, nos mais diversos sectores sociais, que a meia-hora de trabalho não vai alterar significativamente a produção no país, eles pretendem aplicá-la. Mesmo que boa parte das organizações do trabalho (tidas pelo governo como “parceiros sociais” quando nisso são úteis), afirme que o desemprego vai aumentar, Passos e Portas fingem que não ouvem, ou que não faz sentido. Apenas para os hipermercados isto pode significar 6.000 postos de trabalho a serem eliminados. Quando enchem a boca de “diálogo necessário” ou “consenso amplo”, Passos e Portas mentem e sobrepõem a meia-hora de escravidão a todos os acordos ou Convenções Colectivas de Trabalho acordadas entre organizações de trabalhadores e patrões. Passos e Portas sabem que ficarão impunes, autoritários, ambos desprezam a palavra dada, as alternativas, a democracia, e mais do que tudo, a vontade de uma maioria da população por uma nova e possível resposta à crise económica.
A mentira, conjugada com a chantagem e medo, são hoje as formas de impor a política que uma minoria quer para si e para o mundo. Passos Coelho e Paulo Portas, enquanto boys temporários do poder político de circunstância, aplicam qualquer programa. A política fácil é hoje destruir milhões de vidas, por mais lágrimas que ministros fantoches vertam ou por mais filmes natalícios e felpudos que Cavaco Silva e a sua esposa decidam protagonizar para aconselhar uns milhões de portugueses a pagar com direitos e o seu futuro, as suas vantagens e as dos seus amigos.
Ficam duas notas finais: as organizações patronais não estão confortáveis com a medida e a forma como foi imposta. Já perceberam que terão de lidar com a força, pouca ou muita, que os trabalhadores e as suas organizações tiverem nos locais de trabalho. Por outro lado, as organizações de trabalhadores já apelaram à desobediência. Nós apoiamos esse apelo e abrimos essa reflexão a outros temas que o merecem: aumento dos transportes e pagamento de vias rodoviárias determinantes para a vida das pessoas e com poucas ou nenhumas alternativas da mesma efectividade. 
Sabemos que o medo será imposto e que a chantagem subirá de tom na gestão nacional feita pelo governo bem como dentro de cada local de trabalho. Mas também sabemos que há cada vez mais cidadãos que não se vão render a um sistema económico e político austero e destrutivo, porque acreditam na força da democracia e na sua génese de debate e apresentação de alternativas. Assim, a justiça será chamada a tomar decisões importantes, a favor ou contra a democracia.
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