A austeridade que veio para ficar

Apesar da propaganda sobre o fim da crise, anunciado recente por Passos Coelho para 2013, cada vez mais se torna óbvio que a austeridade veio para ficar. A austeridade aliás, alimenta-se de austeridade e degrada cada vez mais as condições económicas dos países. Até os profetas da austeridade dizem que ela está aí para ficar: a agência de notação Moody’s, apresentou recentemente o relatório “Periferia da Zona Euro: Reformas Estruturais Melhoraram Significativamente os Desequilíbrios Externos, mas Resolução Completa Ainda Pode Levar Anos” e o colosso da banca Citigroup diz que o governo será obrigado a aumentar o empréstimo com o FMI e a UE.

Se os sinais mais gravosos de que a degradação económica está aí para ficar são mais que evidentes (PIB em queda de 3,3% no segundo trimestre, salários em atraso, desemprego oficialmente acima dos 15 por cento, entre os jovens nos 35,3%, número de professores desempregados a duplicar, layoffs em várias empresas, desemprego a crescer inclusivamente no Verão pela primeira vez em 20 anos, aumento massivo da precariedade), a informação que vem dos senhores da notação é que as “reformas estruturais” – jargão oficial da austeridade – estarão, quanto muito, a meio do processo.

A Moody’s vem referir que Grécia, Irlanda, Portugal e Espanha “ainda não resolveram totalmente os desequilíbrios externos desenvolvidos no período anterior à crise” e que esta correcção “poderá levar vários anos”. É a situação da Grécia com sucessivos pacotes de austeridade que apenas agravam cada vez mais a situação económica.
O Citigroup antecipa que Portugal peça brevemente uma extensão do “resgate” que, ainda assim não chegará e deverá levar a uma reestruturação da dívida nos próximos 1 a 3 anos “já que o programa da troika não será capaz de trazer sustentabilidade orçamental a Portugal”. O banco espera para este ano uma recessão de 3,9% (contra a previsão de -3% do governo), o incumprimento da meta do défice e, para o ano de 2013 um agravamento da recessão para 6,1% (contra a previsão de crescimento de 0,6% alardeada por Passos Coelho e governo).

É necessário referir que resolver os desequilíbrios externos, como refere a Moody’s, implicam uma só coisa: depredar os países dos seus recursos, das suas pessoas, das suas riquezas. Liberalizar todos os aspectos da economia abrindo o país a um tipo de economia extrativa em que tudo sai, mas nada entra. Há anos que isto é feito. E o resultado é sempre igual. Pretendem que continue a ser feito durante muitos anos pelo futuro adentro. A austeridade não é uma fase passageira e, ao contrário do que defende o governo, a retoma não está ao virar da esquina. A austeridade veio para ficar. A única coisa que a pode contrariar é a acção colectiva.

Facebooktwitterredditlinkedintumblrmailby feather