A desculpa da crise abre caminho aos layoffs e à precariedade

« Quase 12 mil trabalhadores de mais de cem empresas de vários sectores em Portugal estão ou estiveram com o contrato de trabalho temporariamente suspenso (lay-off) desde o início do ano, segundo dados fornecidos à agência Lusa pela CGTP »
« Mais de metade dos trabalhadores em lay-off laboram na indústria metalúrgica, sector em que 7628 trabalhadores de 54 empresas estão ou estiveram com o contrato suspenso temporariamente »
« Empresas metalúrgicas como a Renault CACIA, de Aveiro, a Dura e a Sodécia, na Guarda, a Shaeffler, nas Caldas da Rainha, a Fleximol, em Santarém, e a Citröen, de Mangualde, suspenderam o contrato à maioria dos seus trabalhadores durante seis meses, na expectativa de que o mercado melhore entretanto»
« A CGTP reconheceu à Lusa que os dados sobre lay-off por si compilados pecam por defeito, dado que os seus sindicatos não têm um registo exaustivo de todos os casos»
« Segundo o Código do Trabalho, a Segurança Social suporta dois terços do que o trabalhador recebe em situação de lay-off e as empresas asseguram o pagamento dos restantes 30 por cento »
« A legislação laboral admite que as empresas possam reduzir a actividade temporariamente, assim como suspender os contratos de trabalho, “por motivos de mercado, estruturais ou tecnológicos, catástrofes ou outras ocorrências que tenham afectado gravemente a actividade normal da empresa, desde que tal medida seja indispensável para assegurar a viabilidade da empresa e a manutenção dos postos de trabalho” »
(Jornal Público)
Quem e como é que se avalia a indispensabilidade destas medidas?


Será necessário salvaguardar os lucros de grandes empresas que durante anos acumularam fortunas à custa da exploração? Será que os precários que foram explorados durante anos e a quem nunca ninguém se lembrou a subir ordenados durante as épocas de maior crescimento económico têm de pagar agora uma crise que não criaram? Será que o peso dos ordenados de todos estes trabalhadores é suficientemente significante nos custos globais das empresas de modo a ter algum efeito “anticrise”?

Relembramos o caso da autoeuropa (aqui, aqui e aqui), que não queria pagar as horas de trabalho ao sábado como medida de prevenção da crise, sendo que “os salários, no global, pesam apenas cinco por cento dos custos globais da Autoeuropa (…)” e portanto é demasido insignificante para que se justificar como medidada anticrise.

Não podemos aceitar que sejam os precários a pagar a crise, nem que esta seja o argumento para facilitar exploração e enfraquecer os trabalhadores.
Facebooktwitterredditlinkedintumblrmailby feather