A fraude

O Ministro da Solidariedade e Segurança Social, Vieira da Silva, veio hoje (2a feira) admitir criar uma prestação social para pequenos e médios empresários em situação de suposto desemprego. O livro fica aberto quando o ministro assume que «O Governo tem vindo a trabalhar com as associações empresariais no sentido de estudar a possibilidade de criar uma prestação social para empresários que vejam a sua situação degradada em virtude do encerramento das suas empresas».

Ou seja, o governo está a “trabalhar” com os empresários no sentido de garantir que nestas situações de crise os patrões, pequenos e médios, não vejam a sua situação degradada. Ora, é comovente. Particularmente quando sabemos que cerca de 28% dos agregados familiares em Portugal vive com menos de 500€ por mês, e outro terço, 29%, entre os 500 e 900€.

Sabemos também, e já não somos só nós, que Portugal é um país em que os patrões e gestores primam pelo desprezo pelo conhecimento. O padrão de desenvolvimento assente na exploração da mão de obra ao invés do conhecimento é imagem de marca de Portugal e países do 3º mundo.

Também é sabido , muito particularmente por quem vive do seu trabalho, que os patrões têm tido sempre à mão a possibilidade de não precisarem de saber nada de gestão nem de formas de organização empresarial. Quando a empresa “se constipa”, é fácil, colocam-se alguns trabalhadores na rua e contratam-se “estagiários” ou outras estirpes parecidas do vírus da precariedade.

Agora, parece que Vieira da Silva e o governo (e se calhar mais gente) , acham que é momento de premiar esta magnífica classe de gestores e patrões, de pequenas e médias empresas que muito têm contribuido para a projecção de Portugal. Como relata o DN de 15 de Junho, Os membros de órgãos estatutários, como administradores, gerentes e directores de empresas, são dos poucos que a partir de 2010 irão pagar taxas contributivas mais baixas para a Segurança Social.”

Continua ainda Com uma taxa contributiva mais baixa do que a generalidade dos trabalhadores, os membros de órgãos estatutários têm acesso à protecção na doença, na parentalidade, nas doenças profissionais, na invalidez, na velhice e na morte. Mas poderão ainda vir a ter acesso ao subsídio de desemprego.

É quase uma ternura chamar subsídio de desemprego ao fecho das empresas dos patrõezinhos. Coitados dos patrões e gestores que decidem exactamente o valor do seu ordenado, porque sim. Coitados dos patrões e gestores que dizem que os trabalhadores se têm de flexibilizar e ser mais aplicados, aceitar trabalhar mais ganhando menos, quando eles próprios decidem o seu horário e se vêm, ou não, ao local de trabalho conforme lhes apeteça.

Coitados dos gestores e patrões que se auto-premeiam, todos os anos, com os lucros das suas pequenas e médias empresas, e ganham várias vezes mais do que o ordenado da maioria dos seus trabalhadores. Coitados deles que às vezes não ganham o suficiente e têm de fechar as empresas… para abrir noutro sítio onde quem trabalha coma menos.

Mas parece elementar dizer que já basta que nos roubem enquanto trabalhamos para eles, quanto mais, quando eles decidem fazer outra coisa qualquer, noutro local, com outros explorados… ter de pagar a sua pausa para um suminho é inaceitável.

rUImAIA

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