A guerra ideológica é barata, no sítio do costume

A Jerónimo Martins terá recebido da Autoridade para a Concorrência uma coima de 29.927,88 euros por causa da sua promoção no passado 1º de Maio. A campanha, que se cobriu com um manto de guerra ideológica contra quem vive do seu trabalho exactamente no Dia do Trabalhador, foi uma declaração de Alexandre Soares dos Santos de que quer, pode e manda no que diz respeito ao povo em Portugal. As autoridades parecem querer confirmar a sua declaração. A campanha do Pingo Doce atacou directamente os trabalhadores (do Pingo Doce e fora dele) e os produtores, menorizando e desrespeitando uma população em crescentes dificuldades.

A campanha de 50% de desconto imediato a quem fizesse compras acima de 100 levou a um autêntico assalto às lojas do Pingo Doce. Esta campanha aproveitou-se sem pudores da fragilidade económica em que o país se encontra para procurar criar clivagens, afastando as pessoas da contestação de rua para abastecerem-se em tempos de crise. No entanto, as condições de dumping (venda abaixo do preço de mercado e, neste caso, até abaixo do próprio preço de fabrico) em que foi feita a promoção são ilegais. A promoção, feita em 370 lojas por todo o país, e mereceu uma multa de 30 mil euros o que significa que o Pingo Doce pagou 81 euros por loja, menos que uma só promoção (100 euros) por loja! Acrescem as despesas legais, que deverão cifrar-se num total de 250 euros.
As vendas do Pingo Doce aumentaram em 2,4% no segundo trimestre, mas o principal resultado obtido com a campanha não foi fruto do dumping económico, mas do dumping ideológico. A posição de força deste grupo económico ficou cabalmente demonstrada. Se já havia demonstrado que podia pedir sacrifícios ao país e exigir-lhe mais trabalho enquanto mudava a sua sede fiscal para a Holanda para não pagar impostos, mostrou agora que mesmo assim ainda pode fazer ilegalidades para afrontar quem paga a crise e sair sem mácula da situação.

Os dois grandes grupos económicos de distribuição deste país, Jerónimo Martins e SONAE, que abastecem três das maiores fortunas pessoais do país (Alexandre Soares dos Santos, Belmiro de Azevedo e Paulo de Azevedo), elegeram como alvo os trabalhadores. No ano passado já haviam obrigado os seus trabalhadores – um autêntico exército de precários e precárias que mantém a máquina da distribuição a funcionar – a não usufruírem do feriado do Dia do Trabalhador. Este ano deram mais um passo em frente. A escalada de confrontação ideológica continua.

Apesar de se falar de um prejuízo de 10 milhões de euros para o Pingo Doce, sabe-se que essa factura não será paga pela Jerónimo Martins, mas sim pelos produtores que a mesma esmaga em conjunto com a Sonae. Esta decisão permite portanto concluir pela já velha máxima de que o crime compensou, pois as sanções previstas para tão gritantes e disseminadas ilegalidades mais não são que migalhas. Com um pouco de sorte as multas poderão ainda ser dedutíveis nos impostos e poupar dinheiro à JM. Se a JM ainda pagasse impostos em Portugal…
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