A máfia está ao rubro :: os mais pobres têm menos

“Malandros que não querem trabalhar não deviam receber nem um tostão… malandros!”. A estratégia de entretenimento que os governos, em Portugal e na Europa, com o apoio folclórico dos grandes partidos de poder ou da direita, levam a cabo, atinge o seu objectivo de colocar os cidadãos a discutir sobre migalhas, assim não estarão preocupados com o que interessa.
Em Portugal, o ataque aos mais pobres dos pobres é a política central que dá espaço a todo o roubo. Por cá, um trabalhador, assalariado portanto, assume na sua vida um risco de pobreza de 12%, cerca de 2/3 do risco global de pobreza. Ou seja, o facto de ser trabalhador e ter um salário não garante, longe disso, que a pessoa se afaste dos limites mínimos necessários a uma vida com pouco mais do que o estritamente essencial. 

O ataque do governo, com PS e PSD a sustentá-lo, aos mais pobres e a quem vive do seu trabalho rende pouco na economia positiva do país, no entanto, rende muito ao capital e aos patrões. O aumento do IVA, enquanto taxa indirecta, carrega na bolsa e na vida de quem vive do seu trabalho, e sempre, de quem tem menos. As taxas ou impostos indirectos são sempre menos justos do que os impostos directos (IRS ou IRC), porque os primeiros (como o IVA) não introduzem qualquer lógica progressiva. E como dissemos há algum tempo, Belmiro de Azevedo não come 3 mil refeições por dia, o que quer dizer que se não forem aumentados os impostos sobre o rendimento e o capital, ele, Belmiro, e os outros Belmiros,  colocam a salvo as suas fortunas sempre com baixa taxação pelo Estado. Não será estranho por isso, sabermos, que é nos países do norte da Europa que se verificam as mais elevadas taxas de impostos directos, dado que são  aqueles que são utilizados com mais eficácia na redistribuição de riqueza. Portanto, são utilizados na correção do roubo feito pelos patrões “à cabeça”, ou seja, na correcção do facto de que um trabalhador recebe apenas uma pequena parte do que produz. A variação das taxas de impostos directos (incluíndo a Segurança Social), na Europa, percorre uma gama que vai de cerca de 21% a 56% do rendimento.
Os governos olham assim para as pessoas como os recursos que cobrem o roubo e desvario do capital. Quem paga os défices nacionais são os aumentos do IVA, a baixa dos salários, o esvaziamento da Segurança Social, Saúde e Educação. Mas será que realmente assim se pagam os défices e se fortalecem as economias dos países?
Não. Não é preciso ser-se Paul Krugman para compreender que estamos a alimentar os patrões e o capital e que é esta é apenas uma antecâmara de uma próxima, breve e mais profunda crise económica. As medidas de austeridade aprofundam a crise, e na falta de salários e de poder de compra que introduzam factores de crescimento na economia, serão o emprego e as condições da democracia que serão utilizadas para pagar a acumulação necessária e sempre urgente de quem já só faz as suas contas com inúmeros dígitos.
Assim, perante um ataque à base social da democracia, desestruturante e cobarde (porque é sempre mais fácil exigir a quem não pode dizer que não), chegamos ao ponto em que os Ministros e Secretários de Estado se vangloriam publicamente (voltados para os patrões) divulgando as metas que conseguem atingir: 44% das famílias que sobrevivem em condições que ninguém pretende para si sofreram mais cortes nesse nível de vida, de pobreza. 44 por cento das 154.884 famílias que em Julho recebiam RSI sofreram um corte na prestação; 5% deixaram de receber; 0,04 por cento tiveram um aumento na prestação. Também os desempregados mais pobres estão sob ataque, os que estão a receber subsídio social de desemprego: dos 148.308 beneficiários, 7% deixaram de receber. (fonte: Público).
Assim, um dos testas de ferro dos negócios para a área social, Pedro Marques, avança que em Agosto o Estado conseguiu reduzir em 10 milhões de euros a despesa com o RSI e poupou 2,8 milhões de euros com o subsídio social de desemprego. Portanto, poupou com os pobres 12,8 milhões de Euros. No entanto, o mesmo governo, não sabe como vai recuperar os 672 milhões de euros enterrados no BPP.
Mas saberá ele responder quantos milhões são perdidos na economia paralela dos contratos ilegais em Portugal? Quererá ele enfrentar as empresas, grandes ou pequenas, ou a Segurança Social, que exploram a vida de mais de 1 milhão e meio de pessoas (trabalhadores) com contratos precários  e na maior parte, ilegais (eternos contratos a prazo, falsos recibos verdes)?
Não. Claramente que não. Esse trabalho só poderá estar a cargo de quem está do lado da solidariedade, da justiça e da democracia. E claro que não, nós também não queremos ninguém que não queira trabalhar a viver à custa dos outros. Por isso estamos determinados a ir ao assalto de quem mais rouba…não dos mais pobres.
Ver:
Facebooktwitterredditlinkedintumblrmailby feather