A perversão do “Low-Cost” e a Precariedade

Fast-Food Strikes in 50 U.S. Cities Seeking $15 Per HourNa última década, em especial depois da crise de 2008, a expressão “Low-Cost” difundiu-se em quase todos os sectores, mas ouvimos falar dele sobretudo em relação às companhias de aviação. Tomando como exemplo a sua aplicação neste sector seria expectável que as empresas de baixo custo tivessem uma redução nas suas margens de lucro e que as suas demonstrações de resultados fossem abaixo das companhias aéreas ditas regulares.

Não só isso não aconteceu como ano após ano os seus lucros cresceram e o seu negócio se expandiu. Seria também expectável que os seus trabalhadores pudessem beneficiar desse crescimento, mas de facto quando comparados os seus vencimentos e condições de trabalho verificou-se exactamente o oposto. Em média o seu salário é 40% inferior ao de um trabalhador “regular”, não beneficiando em nada desse sucessivo aumento de dividendos das respectivas empresas.

Em boa verdade o termo low-cost significa sobretudo acumulação de lucros para as empresas e distribuição dos mesmos para os seus accionistas e administradores. Ao entrar nesta lógica de nivelar por baixo a compra de bens e/ou serviços cabe-nos perceber quais as consequências dessa opção. Em primeiro lugar e no pressuposto que um produto possa ser gerado a um custo inferior, devemos interrogar-nos de que forma isso é possível. Das duas três, ou a qualidade da matéria-prima é inferior, sendo que normalmente provém de zonas/países onde as condições laborais e sociais são miseráveis, ou a mão-de-obra , e directamente o custo do trabalho, são inferiores. Ou ambas!

Por observação dos lucros das grandes empresas e multinacionais verifica-se que as margens de lucro se mantiveram ou cresceram, e como tal percebe-se que o “low-cost” se tornou numa boa desculpa para supostamente comprarmos algo mais barato, mas que na realidade é também uma desculpa para justificar os vencimentos inferiores que se praticam nas empresas que vendem esses produtos e serviços, quando comparados com outras.

Compactuando com esta opção das nossas vidas devemos interrogar-nos sobre as suas consequências em termos económicos e sociais. Não só se torna perigoso diminuir os padrões de qualidade como os desnível salariais para a mesma actividade/sector se tornam uma arma de arremesso e de chantagem para com os restantes trabalhadores que ainda possam ter alguns direitos e ordenados acima do limiar da sobrevivência. Tem sido também uma boa estratégia para gerar conflitos entre os próprios trabalhadores, colocando-os uns contra os outros, muitas vezes quebrando aquilo que deveria ser a unidade de classe na defesa dos direitos de todos.

É certo que em tempos de crise, e de sobrevivência, é nosso desejo adquirir bens e serviços o mais barato possível, e que pelas próprias condições de vida se torna extremamente difícil escapar dessas opções como consumidores.

Em suma, sempre que escolhemos low cost, devemos desconfiar da sua origem, pois normalmente ou a qualidade é baixa, ou a condição de quem fabricou e/ou prestou o serviço é baixa e precária. Mas afinal não é esta a tão falada “competitividade” que todas as noites nos entra em casa pela televisão na voz do governo e dos seus fazedores de opinião de serviço?!

Quando compramos low cost, é quase certo que aqui ou na China somámos ao Precariado mais um trabalhador nessas condições, e que na generalidade acrescentámos mais euros aos lucros das grandes empresas e multinacionais, naquilo que sabemos ser um aproveitamento nos “tempos de crise” da transferência dos rendimentos do trabalho para o Capital, seja de forma clara ou encapotada.
Há quase uma ideia generalizada que tudo tem de ser low-cost, a Saúde, a Educação, os Serviços Públicos, o próprio Trabalho ( competividade?! ), etc… mas na realidade o que nos espera é diminuição das nossas vidas e da qualidade, bem como um futuro de grandes dificuldade para as gerações futuras.

O Precaridado não dorme!

Luís Gonçalves

 

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