A última ronda

Na noite passada Pedro Passos Coelho concretizou as muitas ameaças que vinha fazendo ao país apresentando um rol de medidas que contribuirão para agravar ainda mais a desastrosa situação do país – despedir 30 mil funcionários públicos, cortar os salários da FP em 5%, obrigar todos os ministérios a cortar 10% na despesa, aumentar a idade de reforma para os 66 anos, taxar novamente as pensões com outra taxa extraordinária, aumentar idade de reforma nas Forças Armadas para os 58 anos. Num discurso de 26 minutos, Passos Coelho não disse uma só vez a palavra “desemprego”, “pobreza” ou “miséria” que o seu plano continuará a criar.

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Num discurso que começou no vazio e acabou nas ameaças, Passos Coelho apresentou um plano de continuação de destruição do país, escolhendo como alvos primordiais os funcionários públicos e os pensionistas. O antigo ministro das Finanças do CDS, Bagão Félix, fala de uma “OPA hostil” do Ministério das Finanças sobre o sistema de pensões, como vínhamos anunciando há quase um ano. A opção é clara: pegar na base que ainda assim puxava para cima a economia, pressionando para subir salários e direitos – a função pública – e transformá-la num farrapo. É esse também o plano liberal de arrasar com o Estado, não apenas o Estado Social, mas mesmo o poder que o mecanismo democrático tem para actuar sobre a economia, deixando tudo livre aos “mercados” para gerirem os países, como vêm fazendo há décadas, por exemplo, na África Subsahariana.

O anúncio compreende um corte de 4,7 mil milhões de euros, faltando ainda concretizar, por exemplo, a gravíssima situação de cortes de 10% em todos os ministérios, que se materializará no desmantelamento de ainda mais serviços e no despedimento de ainda mais pessoas. O grosso do corte (2,8 mil milhões) será em 2014.

Passos Coelho lidera um executivo sem qualquer sustentação social, que desmente a cada acção o seu programa de governo e aquilo que prometeu a todos quantos votaram em si. A sua manutenção é apenas gerida pela troika e pelo Presidente da República, que se recusa a cumprir o seu papel e que mantém a situação insustentável de garantir um governo que governa apenas e unicamente contra a população do seu país.

A previsão de Primavera da Comissão Europeia, anunciada ontem, previa para Portugal um desemprego de 18,3% para 2013 e de 18,6% para 2014, mas Passos não se referiu a esta questão que coloca um milhão e meio de pessoas (desemprego real) fora da economia, fora da sociedade. E conclui apelando com o já gasto slogan da necessidade de um “consenso político” à volta destas medidas e das outras que irão sendo apresentadas até ao final de Maio. Só pela acção popular se pode parar esta psicose austeritária que domina os destinos deste país e de outros. Hoje estão convocadas acções para o Palácio de Belém a partir das 18h30, durante todo o mês de Maio haverá seguramente muitas mais acções, como as de 25 de Maio frente também frente a Belém convocada pela CGTP. No dia 1 de Junho os povos da Europa unem-se em protesto contra a troika. É urgente acabar com o estado de sítio em que estas pessoas colocaram o país e o continente. É urgente travá-los. Que esta tenha sido a última ronda que concedemos a Passos Coelho. Ou o povo e a democracia acabam com a austeridade, ou a austeridade acabará com o povo e com a democracia.

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