A vida depois dos 10%
São os desempregados de longa duração, mas não são apenas os de fraca formação como tão desesperadamente quer fazer crer Walter Lemos, talvez na esperança de nos impingir mais uma mão-cheia de “novas oportunidades” ou “estágios” que no final de contas não servirão para coisa alguma – nem sequer para os futuros ex-estagiários ficarem a receber um rendimento mínimo de inserção, pois a realidade é uma horda de desinseridos. Deprimidos.
São os jovens com menos de 24 anos mas também os menos jovens, os mais velhos, as mulheres, as mães, os pais e os filhos.
São os que constam nas estatísticas mas também os (cada vez em maior número) que já desistiram de procurar emprego e esses, claro, nunca saberemos quantos são. Estão em casa, rodeados pelas contas de electricidade e de gás, a receber chamadas de instuições bancárias alternadamente a oferecer supercréditos e a cobrar juros sobre contas a descoberto.
São os que receberam cartinha do centro de emprego: “Caro cidadão, informamos que até agora não foi possível responder ao seu pedido pelo que a sua inscrição será anulada dos nossos ficheiros a não ser que retorne este postalinho no prazo de 10 dias”.
São os que andam aos biscates e ficam à espera que lhes paguem.
São os que passam recibos verdes e não contam para as estatísticas porque mesmo que não trabalhem há meses hesitam em fechar actividade e inscrever-se nos Centros de Emprego (para quê?).
São os malandros que não querem trabalhar.
São os estagiários, os precários, os subempregados, os mal empregados, os quase empregados, os semi-empregados, os que gostariam de trabalhar e não conseguem, os que trabalham mas não recebem, os que trabalham no negro, os voluntários à força, os que são substituídos por máquinas, os que são emprateleirados, os que…
A taxa, portanto, estagnou nos 10,6%. E o governo diz que é uma boa notícia. Pois sim. Afinal, podíamos estar pior. Podiam os verdadeiros números vir ao de cima…. Ou não podiam?
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