Adiante, nada de novo…
Sonhei que estava no escritório e de repente chegava o patrão, que nunca antes tinha visto, e me dizia: “A partir de amanhã escusa de vir. Não gosto de si, não a quero cá mais”. Falando com uma amiga, esta aconselhava-me: “Não te vás embora sem assegurar que te pagam todas as contribuições para a Segurança Social, o 13º e 14º meses e as férias não gozadas”. Assim ficava decidido. Entretanto ia-me apercebendo de tudo o que tinha feito ao longo de um ano naquele posto de trabalho. E do quanto aquela medida era arbitrária, tortuosa e injusta. E caminhava pelos corredores da empresa, observando mil e uma irregularidades flagrantes, E dava de caras com os chefes – tantos chefes, incrível! Tantos chefes para tão poucos subalternos… – entrando para (mais) uma reunião. E tentava chamar um deles para o colocar perante a minha situação. Para questioná-lo. Afinal, tinha sido ele a contratar-me… Mas ele não me ouvia. Subitamente eu tinha ficado transparente e inaudível para todos à minha volta. Como nos filmes, apenas eu sabia da minha própria existência, ninguém mais dava por mim.
E depois acordei. Assarapantada. Imóvel e estremunhada, ali permaneci, longos minutos, tentando discernir a realidade, buscando a custo o aqui e o agora. Afinal, onde estava eu? Se aquilo não passara de um sonho, então, tudo devia estar bem. Teria eu um emprego? Que horas seriam? Deveria eu estar a trabalhar? Estaria atrasada? Que dia seria hoje? Em que país estava? Em que ano? Em que dimensão?
E depois lembrei-me. Afinal, já tinha sido despedida há mais tempo. Só que não tinha havido pagamentos à Segurança Social nem subsídios de férias nem de Natal e muito menos férias remuneradas. Não tinha havido nem havia qualquer vestígio de hipótese de que um dia viesse a haver. E no trabalho anterior a mesma coisa. E assim para trás, tão longe quanto a memória mais remota pudesse recordar. E diante de mim nada. Nada…
O que há é onze anos de recibos verdes, uma dívida desmesurada a pairar sobre a minha cabeça e o espectro do desconhecido estendendo-se longo à minha frente, indefinidamente, vago e pegajoso, como uma interminável estrada de alcatrão perdida no meio do Alentejo em tarde de verão.
MZ
Este é o tipo de relação laboral que a maioria dos portugueses defende. Pelo menos a julgar pelo numeros de votantes no PS, PSD e CDS…
Este comentário foi removido pelo autor.
…ou o BE.
Afinal um partido que supostamente defende os interesses dos trabalhadores consente a militância de um traidor com o António Chora?
Se todos os que se dizem revolucionários fossem de facto REVOLUCIONÁRIOS, já não tinha-mos de aturar nem os recibos verdes, nem a caducidade dos Contratos Colectivos de Trabalho nem emprego temporário…
A verdade é que a política não é feita apenas pelos partidos políticos (não vivemos numa democracia participativa, eu sei), a política também é feita pelos sindicatos, associações populares, associações sindicais; e se estes tipos de associações permitem a presença de reaccionários, então estão a sabotar o próprio trabalho, a dar tempo à oligarquia de se expandir, a acentuar a exploração… tudo requer disciplina, até as instituições democráticas (não houve sequer algum grupo anarquista que não presa-se a disciplina), a CGTP-IN está sujeita à regra da eleição de dirigentes e delegados sindicais – que os trabalhadores escolham com mais sabedoria os seus representantes, mas o BE, qual quer partido qualquer partido revolucionário tem o dever destituir e expulsar sabotadores e traidores (e só falei no nome de Chora por ser um exemplo flagrante da actualidade – o pós 25 de Abril está repleto de falsos sindicalistas, que sabotaram sindicatos, falsos sindicatos independentes, falsos sindicalistas que se aproveitaram do estatuto enquanto era possível tal acontecer…)