Afinal, depois da Greve Geral, o país parou ou não?

Hoje os media estão infectados por uma mensagem do governo e dos patrões: “O país não parou na Greve Geral!”

Por que discutem eles se o país parou ou não? O que quererá isso dizer? Porque não colocam outras questões como:  
  • Porque não fazem greve muitos dos trabalhadores precários quanto tantas centenas de milhar de outros a fazem?
  • Porque apoiam a greve os trabalhadores precários e muitos não aderiram à greve?
  • Porque pararam os sectores fundamentais da economia, onde ainda existe organização laboral, e quase não pararam as famigeradas PME, os Call-Centers, Centros Comerciais e outros locais de trabalho precário?

Mas não fugimos à questão que o governo  e os patrões colocam nos media. Antes respondemos que eles não discutem a mobilização e a percepção pública sobre a necessidade da Greve Geral como forma de manifestação de um povo que não aceita produzir e ser  mais roubado.  A Greve Geral aconteceu, foi de todos, paralisou boa parte dos serviços essenciais do país e o apoio foi esmagador. Helena André e os patrões sabem que perderam. Eles não o discutem, foram derrotados porque as pessoas, trabalhadores, afirmaram ontem que não aceitam o roubo organizado.

Porque diz Helena André que o país não parou? Helena André não faz a menor ideia de como responder perante a evidência da fraude democrática que representa a exploração, o isolamento e a chantagem sobre trabalhadores precários. Essa é a realidade que é revelada pela greve. Um país de contraste laboral. Quem estava organizado em Sindicatos ou outras formas de representação laboral parou os serviços e disse que não aceita mais roubo. Quem está precário ou desempregado solidarizou-se com a greve; uns fizeram greve e muitos outros denunciaram os abusos da chantagem de quem se passeia com ar de responsabilidade intocável num país a estremecer com a força de quem está disposto a tudo na luta social. 
As PME não pararam? As lojas e serviços organizadas sob a exploração laboral foram desmascaradas: precariedade, salários baixos, muitas denúncias, muitas ameaças, muita chantagem. Mas os trabalhadores (precários e outros) trouxeram à luz do dia a greve nos locais de trabalho precário. Ganharam os trabalhadores. A greve teve também participação dos trabalhadores precários porque estes a levaram para dentro do local de trabalho (ver vídeo no post acima).
Os serviços públicos pararam de forma esmagadora: escolas, faculdades, centros de saúde, hospitais, tribunais, finanças, limpeza urbana, bombeiros profissionais, auxiliares de educação. Fecharam inclusivamente Camâras Municipais inteiras, transportes colectivos por completo. Também boa parte das grandes indústrias nacionais e grandes empresas de serviços privadas ou do sector empresarial do estado (o que é basicamente a mesma coisa) foram afectadas, paralizadas ou estiveram em serviços mínimos: Autoeuropa, Portugal Telecom, EMEL, CGD, Estaleiros Navais, Rodoviária Lisboa, SOCORI, Imprensa Nacional Casa da Moeda, SAKHTI PORTUGAL, S.A, Porto de Lisboa, SAPA (Sintra), Saint-Gobain (ex-Covina), Impormol, Valorsul, Centralcer, Kraftfoods, INEM, ANA Aeroportos, Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC), Browning (Viana do Castelo), Kemet(Évora), Lisnave,… A lista é enorme e trespassa pelas maiores empresas de norte a sul do país.

Também a GNR, PSP, Polícia Marítima apelaram à greve de zelo. Foi esta a forma de associação escolhida por estes profissionais de baixos salários. A democracia decididamente está por ganhar para estes trabalhadores, por estes trabalhadores e pelos outros, contra o abuso de autoridade e manipulação de quem devia zelar pelo interesse colectivo.
O país não parou! Claro que não. Mas pararam cerca de 3 milhões de  trabalhadores que se uniram e desafiaram a chantagem. Pararam os trabalhadores precários ou denunciaram o roubo de que são alvos todos os dias. Pararam os serviços públicos essenciais e as grandes empresas nacionais.
Se o país não parou, podemos então fazer outra vez?
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