António Arroio: Cavaco não quis ouvir protesto

Estava prevista para esta manhã a visita do Presidente da República à Escola Secundária António Arroio. Os alunos sabiam-no e decidiram mostrar o seu descontentamento com um protesto à porta do estabelecimento de ensino. Dando como justificação um “impedimento” de última hora, Cavaco Silva não efectuou esta visita. Seja ou não real esse “impedimento”, a verdade é que o cancelamento desta visita é um facto inédito desde a sua eleição em 2006.

A António Arroio foi recentemente remodelada, mas como afirmam alguns alunos, as condições de trabalho na mesma são inaceitáveis. Os alunos afirmam que na escola não há impressoras, internet e aquecimento nas salas. Na escola não há também um refeitório, o que é ainda mais grave sabendo-se que por esta ser uma escola vocacionada para o ensino das Artes, recebe alunos de todo o país. “Governo fascista é a morte do artista”, era uma das frases que se ouvia da boca dos alunos que demonstram ter plena consciência do que os espera no futuro se quiserem singrar na sua área de estudo.

Outra das razões que levou a este protesto foi a subida incompreensível do passe de transportes para estudantes. Nalguns casos o valor duplicou, o que obriga a que as famílias dos alunos que beneficiavam do desconto de estudante no passe social, tenham de fazer um esforço incomportável para o seu orçamento familiar. Também em Coimbra, os estudantes quiseram demonstrar o seu descontentamento pelo aumento vergonhoso dos passes de transporte. Um representante de cada Associação de Estudantes das escolas que participaram no protesto, foram recebidas por um elemento do gabinete da Presidência da Câmara de Coimbra, que fará chegar uma carta dos alunos à Assembleia da República.

A fuga do Presidente da República a este protesto, só demonstra o desconforto que Cavaco Silva começa a ter para lidar com a indignação que vai crescendo no nosso país. Os alunos da António Arroio mostraram ter plena consciência do dano que as medidas implementadas pelo governo PSD/CDS irão causar no seu quotidiano e nas crescentes dificuldades que enfrentarão quando chegar a sua hora de entrar no mundo do trabalho. Ficamos hoje a saber que o desemprego jovem subiu para os 35,4%, sendo a sua faixa etária (15-24 anos) aquela em que a subida mais se fez sentir.
João Jacinto, aluno da António Arroio, expressou o sentimento geral dos alunos, afirmando que “gostava que o Presidente tivesse tido mais respeito” por eles. Este sentimento começa a generalizar-se na sociedade portuguesa e é transversal a todas as gerações. Cavaco Silva, que já afirmou ser o Provedor do Povo, esqueceu-se por momentos dessa função e preferiu não comparecer num local onde sabia ter de enfrentar um protesto bem audível, juntando assim mais um infeliz e fraco momento à sua magistratura presidencial.
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