António Barreto quer que se trabalhe até morrer

O sociólogo António Barreto, responsável por dois dos produtos mais frescos do Pingo Doce (Fundação Francisco Manuel dos Santos e Pordata), defendeu esta quarta-feira que a idade da reforma não deve ser fixada pelo Estado.
À margem do lançamento de mais um folhetim da referida Fundação da empresa de Soares dos Santos (Grupo Jerónimo Martins), Barreto afirmou que porque o “país atravessa um momento muito sério” é “absolutamente pertinente” que se aborde a questão da terceira idade por razões de produtividade, de emprego e de sustentabilidade social. Assim, defendeu que se pudesse trabalhar para além dos 65, dos 70 ou mesmo dos 75 anos.

Esta visão do envelhecimento é grave e retrógada do ponto de vista social. Com o aumento da esperança média de vida e com o envelhecimento da população, causado por uma taxa de natalidade muito baixa que radica em fenómenos como a precariedade, é certo que a Segurança Social necessita de um novo modelo de financiamento. Á boleia da insustentabilidade do modelo de financiamento da Segurança Social o Governo PS realizou uma reforma impondo um factor de sustentabilidade que resultou no aumento da idade da reforma e na diminuição das pensões futuras.
Mas há outras maneiras de financiar a Segurança Social, pois não faz sentido que, em pleno séc. XXI, ainda se mantenha o sistema do séc. XIX. Hoje uma empresa com mais empregados e menos facturação paga muito mais de contribuição para os regimes de previdência do que uma que só tem um ou dois empregados e que factura muito mais.
A Segurança Social está sob ataque, como já temos denunciado (aqui e aqui), e os Precários Inflexíveis não aceitam que se desmantele esse sistema de redistribuição da riqueza e de protecção social e que se condenem as pessoas a trabalhar até morrer. Se se melhorou a esperança média de vida, esse tempo extra de vida deve, em nossa opinião, ser aproveitado pelos mais velhos a realizar as actividades que estes desejam. Aliás, estranhamos que num momento de desemprego recorde, Barreto defenda medidas que iriam piorar o desemprego (porque não haveria entrada de novos trabalhadores nas empresas) e reduzir a competitividade (porque com esses mais novos poderão vir novos conhecimentos).
Se António Barreto defende os interesses e os produtos do Pingo Doce, nós respondemos com a defesa dos interesses do país e dos trabalhadores, novos e velhos.
Notícia TSF com som aqui.
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