Apartheid Social: Passes mais caros (até 100%) e pobres fora da hora de ponta

Depois dos aumentos verificados em 2011 e em Janeiro de 2012, amanhã, dia 1 de Fevereiro, entram em vigor as novas tarifas para os transportes públicos que em alguns casos sofrerão aumentos de mais de 20%. Desde Agosto passado, devido às subidas nas tarifas cerca de 5% a 6% de cidadãos foram excluídos da mobilidade e presos na periferia das cidades. Os aumentos de Fevereiro podem afastar mais 5% a 6%. 

Simultaneamente, o governo pretende que os pobres andem fora da hora de ponta. Quem tiver dinheiro para suportar os aumentos, poderá deslocar-se como habitual, quem não tiver, terá de recorrer a títulos menos caros tendo que sair mais cedo das suas casas e chegando a casa mais tarde, sempre que tiverem de se deslocar à escola, ao médico ou a qualquer outro local. O apartheid social implementado pelo governo de direita fanática começa a ter contornos concretos. 

Muitos dos títulos de transporte terão aumentos muito superiores aos 5% anunciados. São os casos dos passes do Metropolitano e da Carris que, devido à sua substituição pelo Navegante, vão sofrer acréscimos de 21,3%. O passe do metro, por exemplo, sobe de 23,90 euros para 29 euros. Também nas tabelas de preços da CP, Carris e outras companhias de transportes públicos, os aumentos são sempre superiores aos anunciados anteriormente. Estes aumentos, acumulados com os aumentos de 2011, fazem com que os aumentos nalguns casos sejam superiores a 100%, de acordo com o porta voz do Movimento dos Utentes dos Serviços Públicos. 

Uma outra novidade é que o desconto para estudantes e idosos será de apenas 25% em vez dos actuais 50%. Além deste aumento prevê-se já outro aumento para as tarifas dos transportes ainda este ano, de acordo com o prometido por Vítor Gaspar à troika.
A mobilidade é uma questão sensível para a maior parte das pessoas que trabalham nas grandes Áreas Metropolitanas, nomeadamente porque vivem na periferia das grandes cidades. Os serviços públicos de transportes são para muitos a única forma de deslocação para o trabalho mas também para manterem as suas redes sociais de contacto, com a família, amigos e para se deslocarem para os locais de lazer.
O aumento do preço dos transportes terá um primeiro efeito de dissuasão da utilização do transporte público o que levará cidadãos a optarem pelo transporte individual, o que pode ter impactos ambientais graves. Mas as escolhas erradas nesta área também implacam impactos económicos negativos para o país. Tal como aponta a ATTAC 76% do prejuízo das empresas de transportes deve-se ao sub-financiamento público que as leva a recorrer à banca, sendo essa percentagem brutal devida apenas a dívidas de juros à banca. O custo público com o serviço prestado por empresas privadas é superior ao custo público, por passageiro. Um bom exemplo é o da Fertagus (privada), que recebe 1,5 vezes a indemnização por passageiro relativamente à similiar CP (pública), consistindo num óptimo negócio de transferência de riqueza do sector público para o sector privado.

Não existe nenhuma empresa de transportes públicos lucrativa na Europa pela sua própria natureza. É um sector que suporta a economia e cujo retorno é recebido pela sua dinamização, pela facilitação na prestação e acesso a serviços, ao trabalho ou ao combate à exclusão social e cultural.  A privatização fará com que o dinheiro dos nossos impostos continue a ser gasto no financiamento dos transportes de futuras empresas privadas que não terão outro critério que não o lucro dos seus accionistas e que são mais caras e menos eficazes.

O site da ATTAC-Portugal divulga factos extremamente relevantes sobre os transportes públicos em Portugal.
Dia 2 de Fevereiro os sindicatos dos transportes públicos marcaram uma greve a nível nacional para proteger os serviços públicos de transportes, contra o aumento dos preços e contra a reformulação da oferta nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto que terá como resultado a diminuição do fluxo de transportes. 
Além deste protesto, o Movimentos dos Utentes dos Serviços Públicos apela a que a população aja de forma mais activa na luta contra este aumento.
Ver também:
Facebooktwitterredditlinkedintumblrmailby feather