Astúrias no olho do furacão
Os mineiros das Astúrias estão em greve com ocupação dos poços desde há 3 semanas, a 28 de Maio. Os vários ataques pela polícia foram rechaçados pelos combativos piquetes, as manifestações de solidariedade multiplicam-se em Espanha e em outros países e hoje decorre uma greve geral de solidariedade com esta luta nas Astúrias, em León, Aragón e Palência. Sem conseguir fazer uso do seu já habitual aparelho repressivo, o governo de Rajoy vê-se na iminência de ter de negociar com os mineiros. Vêm à lembrança a greve em 1934 e as greves ilegais durante a ditadura.
O anúncio feito pelo governo austeritário de Mariano Rajoy de um corte de dois terços do financiamento das minas de carvão, que acarretaria o seu encerramento, levou os mineiros a ocupar as minas, a montar barricadas e a cortar as estradas de acesso no final de Maio. Constantemente acossados pela polícia, os grevistas respondem com armas artesanais, rechaçando as investidas e mantendo a sua posição. A polícia já conseguiu entrar na mina Santiago de Aller, em Moreda e a sua resposta à recusa dos mineiros que estavam dentro do poço a sair foi atirar bombas de gás lacrimogéneo para o interior. Os mineiros não saíram, mesmo perante tal crueldade e desrespeito pela vida humana. Há pelo menos mais duas minas ocupadas: Santa Cruz del Sil e Pozo del Sóton e hoje mesmo ocuparam a Câmara Municipal de Cangas de Narcea.
As manifestações em solidariedade em Madrid e León foram bastante participadas, sendo imponentes as manifestações nocturnas em León. A polícia atacou ambas as manifestações e deteve vários mineiros. Os mineiros de Gales já manifestaram o seu apoio internacional às Astúrias. Os sindicatos já convocaram mais uma manifestação para Madrid, enquanto hoje mais de 15000 pessoas estiveram reunidas em Oviedo. A luta dos mineiros das Astúrias estende-se a toda o Estado espanhol. Tudo isto no período em que há um fortíssimo ataque especulativo a Espanha depois de Rajoy ter pedido “ajuda” ao FMI. O Governo espanhol encontra-se sobre imensa pressão, e a força dos mineiros asturianos em nada facilita a sua tarefa de destruir o trabalho, os direitos do trabalho e a própria economia. Em Espanha o desemprego oficial já está nos 24%, sendo de 52% para os jovens.
Canções antigas cantam-se nas noites das Astúrias. Os mineiros e as mineiras, filhas e netos de mineiros, recordam as greves de 1934, quando os trabalhadores se opuseram a Franco e que foi derrotada pelo exército fascista, assim como as greves ilegais durante a ditadura, na qual se destaca a de 1962. Num local com história de luta e de resistência, o povo volta a bater o pé às inevitabilidades, à repressão, à violência e ao austeritarismo que promete o regime ditatorial dos mercados e do conservadorismo. Em todos os países sob o jugo da troika as expressões de desgaste absoluto estão patentes – as lutas agudizam-se, as contradições desnudam-se: das ruas de Madrid às minas das Astúrias, das urnas de Atenas às ruas de Lisboa. Os tempos de mudança já não estão ao virar da esquina. A esquina já virou.
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