Austeridade na Grécia destrói investigação
“A Ciência está a andar para trás” é assim que, Varvana Trachana – uma investigadora Grega – descreve a situação actual do seu país num artigo à revista científica Nature. Bióloga, com um doutoramento em química biológica na Universidade de Thessaloniki, um pós-doutoramento no Centro Nacional de Biotecnologia de Madrid e uma sucessão de contratos a curto-prazo em Atenas, foi eleita professora assistente de biologia celular na Universidade de Thessaly, em Março de 2011. Em 2013, Varvana ainda não começou a trabalhar na Universidade, “pertenço a um grupo de 800 membros da faculdade que ainda estão à espera porque o governo se recusa a aprovar o orçamento necessário para pagar os seus salários”. Estamos a falar de cientistas reconhecidos que foram escolhidos segundo um longo e exigente processo de selecção.
Os departamentos que seleccionaram esses 800 membros estão neste momento com dificuldade para ensinar os seus estudantes. Com um ensino envelhecido – em 2011 o Ministério da Educação não colocou novos professores universitários – as perspectivas profissionais e científicas dos jovens evaporam-se, deixando para trás universidades sem vida e impotentes. Os orçamentos para institutos de investigação foram reduzidos em 30%; em 2013 a educação vai receber novos cortes de 14%. A Grécia está condenada a uma dormência científica e educacional.
O governo grego recusa-se a reconhecer que o compromisso a longo-prazo do financiamento da ciência e educação deve fazer parte da estratégia de impulsionamento do crescimento económico. Em 2007, mesmo antes da recessão, o financiamento para universidades e investigação sustentava-se com 0.6% do produto interno bruto, já muito inferior aos valores médios da União Europeia de 1.9%.
Hoje estima-se que cerca de 150.000 cientistas estão a trabalhar fora do país. A mão de obra qualificada jovem – elemento chave para o desenvolvimento da economia – está a desaparecer exactamente no momento em que a sociedade mais necessita dela. “Eu também estou a considerar emigrar” refere Varvara Trachana. A situação da Grécia, combinada com um conjunto de medidas dos líderes da União Europeia que visam cortar o orçamento para investigação e desenvolvimento, condena as gerações futuras.
“A ciência grega merece ter investimento e merece ser salva”. Em 2012, contra todas as probabilidades, a Grécia ocupava o 13º lugar – acima do Canadá, Itália e França – no ranking dos países que mais contribuíram para os 1% melhores artigos científicos do mundo. Este potencial humano deve ser alimentado por uma urgente acção do governo.
O cenário em Portugal não é muito diferente. Investigadores portugueses são reconhecidos internacionalmente mas os cortes para ciência e educação são devastadores.
Segundo Varvana, resistir ao novo convite do governo para alterar a idade de reforma de professores (de 67 para 70 anos) já seria um bom começo. A mudança foi sugerida como uma solução a curto-prazo para a ruptura das Universidades causada pelo congelamento de novas contratações e contínuas reformas de professores envelhecidos. O que o governo não diz é que esta medida bloqueará a natural e necessária renovação do pessoal das Universidades com novo sangue. O rápido envelhecimento das Universidades gregas será mais acentuado e deixará as Faculdades como conchas empobrecidas sem corpo docente e jovens investigadores. “O que a ciência nos ensinou até hoje é que uma micro-sociedade deste tipo rapidamente será extinta.”
Texto baseado num artigo publicado por Varvara Trachana na revista Nature, Vol. 496. Varvara Trachana é professora assistente de biologia celular na Universidade de Thessaly em Larissa (2 anos à espera de ser convocada).






