Autoridades, mas sem autoridade sobre as suas condições de trabalho.
As forças de segurança, sustentadas com os nossos impostos, encontram-se ao serviço do Estado e dos interesses privados privilegiados e não tanto ao serviço dos cidadãos e cidadãs. A Operação Fátima que teve lugar neste fim de semana é apenas um entre muitos exemplos de como estes profissionais são “carne para canhão”.
Segundo a Guarda Nacional Republicana (GNR), a visita do Papa a Portugal envolveu cerca de 3000 militares diariamente. 3000 militares que ficaram sujeitos a condições que deixam muito a desejar sobre a forma como se tratam e para que servem ao certo as forças de segurança em Portugal. A crítica foi feita pela Associação dos Profissionais da Guarda (APG) após ter tido conhecimento que alguns dos profissionais iriam ficar alojados num pavilhão de uma Escola Prática de Polícia, em Torres Novas, sem acesso a instalações sanitárias, sujeitos a dormirem no chão e sem alimentação garantida, já que só poderiam comer caso sobrassem refeições dos instruendos da Escola. Nenhum medida foi tomada e os responsáveis enviados ao local limitaram-se a tentar descobrir de onde teria vindo a denúncia, sem nada fazerem quanto às condições desumanas que a originaram. Profissionais estes que se viram também impedidos de gozar as folgas, já que proteger Fátima se tornou prioridade máxima.
Perante tal cenário precário, e para além de precário, degradante, a Ministra da Administração Interna Constança de Sousa achou por bem dizer que tais “constragimentos” são secundários perante as circunstâncias excepcionais do que considerou ser “uma enorme missão”. É uma enorme missão pôr o Estado a servir a Igreja e, ainda para mais nestas condições, é isso? É para isto que pagamos impostos?
Já sabemos que o Estado tem precários, e muitos, mas ter uma Ministra a defender condições que, para além de precárias, são um atentado à dignidade daqueles trabalhadores e tudo isto em prol de sua santidade, parece demasiado absurdo. Pior mesmo, é dizer que toda esta situação não prejudicaria de forma alguma o “grande empenho e profissionalismo de todos os militares da GNR” que participaram na dita operação Fátima. Porque não comer não tem implicações? Constança de Sousa disse ainda que o “ideal seria alojá-los em hóteis de 5 estrelas”, mas, na verdade o ideal seria mesmo garantir condições de trabalho dignas. Condições estas que não passam por ter piscina ou buffet diário e álcool “à discrição”, mas sim, por ter acesso a casas de banho, a camas decentes para dormir e a uma alimentação básica equilibrada. Nada de outro mundo, no fundo.
Num cenário cada vez mais minado por empresas de segurança privada, porque tem o Estado de apoiar eventos privados da Igreja Católica, ainda para mais quando nem sequer se dá ao trabalho de garantir condições dignas a estes profissionais que supostamente estão ao seu serviço?
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