Blogosferas

A blogosfera começa também a ficar contaminada pela precariedade, aqui ficam dois posts intercalados por ilustrações de um outro blog ‘O que diz o pivô’.

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Ricardo Paes Mamede, blogue Ladrões de Bicicletas

Estará Vieira da Silva (ver post anterior) em condições de garantir que os recursos destinados a promover a segurança dos trabalhadores que ficam sem emprego vão aumentar o equivalente a 1% do PIB português (para se aproximarem do que se passa na Dinamarca – ver gráfico acima, com dados retirados do Eurostat)? E como é que se pretende evitar o abuso do poder e a chantagem permanente dos empregadores sobre o empregados num país em que os níveis de sindicalização não ultrapassam os 18,5% (na Dinamarca são de 81,6% – os dados são do Livro Branco das Relações Laborais), onde 82,6% dos contratos de trabalho são fixados sem intervenção dos representantes dos trabalhadores e onde 3/4 das empresas não têm qualquer tradição de organização dos assalariados (contrastando com a Dinamarca, um país onde a intervenção dos representantes dos trabalhadores na vida da empresa – em particular nas questões laborais, mas não só – é uma realidade generalizada, e protegida por lei, desde finais do século XIX)? Iremos assistir à inversão da tendência a que temos assistido no sentido da fragilização da negociação colectiva, permitindo que este modo de fixação das condições contratuais (salários, horários, progressões) tenha o mesmo papel em Portugal que tem na Dinamarca?

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Esperar o pior?

João Rodrigues, blogue Ladrões de Bicicletas

A afirmação de Vieira da Silva é muito infeliz: «É a legislação laboral mais rígida dos estados membros da OCDE» (Público). Baseia-se numa estranha avaliação da OCDE. Noto que a própria OCDE já reconheceu que a relação entre o grau de regulação das relações laborais e a criação de empregos é muito frágil e que as prescrições neoliberais na área do «mercado de trabalho» são geralmente acompanhadas por um aumento das desigualdades e da precariedade. Na linha de alguma da evidência empírica disponível. Na realidade, é a ideia de «flexisegurança» à dinamarquesa que parece agradar ao ministro. Espero mesmo que a protecção social portuguesa aumente. Há muito a fazer aqui. Afinal de contas, a Dinamarca, com uma taxa de desemprego que ronda os 4%, gasta 45 000 euros por desempregado; Portugal, com 8% de desemprego, gasta 8 000 (valores ajustados ao poder de compra). Lembro ainda o aviso sensato deixado por Poul Rasmussen, ex-primeiro-ministro da Dinamarca, numa visita ao nosso país: «Se em Portugal decidem de um dia para o outro cortar a protecção laboral, arriscam-se a que tudo o resto não se chegue a realizar. E os empregos precários tornam-se na regra da economia».Vieira da Silva vem agora falar de «segurbilidade». Mais uma expressão horrorosa para a discussão das políticas públicas. Políticas públicas que, a avaliar pela declaração do ministro, podem ser igualmente horrorosas.

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