Bolseiros crónicos
Saiu ontem esta notícia no Diário de Notícias a dizer que a Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) nunca gastou tanto dinheiro em bolsas (de investigação, de mestrado e de doutoramento) como agora. São 10.310 bolseiros da FCT em Portugal. Muitos mais estão com bolsas de investigação associados a projectos de outras entidades.
Nenhum deles tem direitos sociais como subsídio de desemprego, férias ou 13º mês. As bolsas não são sequer ajustadas à inflação desde 2002. É o desprezo total pelo trabalho científico, por quem opta pela vida académica, pelo investimento em ciência que sai dos impostos de todas e todos.
Afinal, de que nos serve ter 1000, 10 mil, 1 milhão de bolseiros, se isto representa trabalho científico feito nas piores condições? Se os projectos não têm dinheiro, se os bolseiros não têm dinheiro, se as faculdades não têm dinheiro, para quem interessa brincarmos aos números enquanto a ciência em Portugal definha?
O que diz João Sentieiro, presidente da FCT a isto? Diz que assim se contribui para o desenvolvimento da “investigação científica tal como é entendido internacionalmente”. Mas isso não é verdade. Se no resto do mundo a precariedade fosse tão vincada como aqui, o êxodo científico não seria a realidade que é hoje.
O futuro é cada vez mais claro e vai esmagar-nos. As faculdades afinal não servem para ensinar, mas sim para lucrar com as propinas dos clientes, perdão, alunos. A ciência a sério é para quem tem pais ricos, ou para meia dúzia de privilegiados. O resto, depois de ter uma formaçãozinha académica, está pronto para fazer tudo por nada.
É esta a realidade em 2010. A precariedade veste-se de várias formas. Para uns veste-se de recibos verdes, para outros de “estágios profissionalizantes”, para outros de bolsas de investigação. É assim que nos encontra as fraquezas e abre espaços. Mas não é assim que nos ganha.
Hugo Evangelista
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