Call centers: o mundo em que os direitos ficam à porta

Uma reportagem recente do jornal Público (disponível para leitura aqui) abre mais uma janela para o mundo hostil dos call center. Habituadas à opacidade destes territórios de excepção em que os direitos ficam à porta, as empresas obviamente não gostam que se conheça o que se passa no seu interior. O trabalho do jornalista Paulo Moura motivou uma “resposta” do CEO da Teleperformance, através de anúncio divulgado noutro órgão de comunicação (Diário de Notícias), num texto que é tão impressionante como revelador do comportamento dos dirigentes destas empresas que vivem da exploração intensiva do trabalho.

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Trabalho duro e repetitivo, totalmente controlado ao minuto, salários muito baixos e coacção permanente a fazer lembrar tempos prévios aos direitos laborais: este modelo de trabalho extenuante e muito mal pago, com grande rotação em que toda a gente é descartável, recorrendo a múltiplas qualificações e competências das suas vítimas, continua nestas autênticas fábricas de precários.

A reportagem, para além dos muitos relatos revoltantes que dão uma ideia do que são os permanentes abusos sobre quem trabalha nestes centros de atendimento à distância, revela também como este negócio se quer afirmar. Os call centers não são apenas uma caricatura, mas uma importante vertente para uma exploração brutal, em que hoje já muitas pessoas têm de trabalhar e com intenção de se ampliar.

“Portugal está portanto num momento ideal para a entrada das multinacionais do call center. Os últimos governos dotaram o país de uma boa infra-estrutura tecnológica, baixaram os salários e aumentaram o desemprego até ao ponto de terem grande parte da população desesperada, mas ainda não ao extremo de haver protestos violentos. Um bom trabalho, na perspectiva das multinacionais. Para elas é perfeito: um país desenvolvido e miserável ao mesmo tempo”. O facto de Portugal estar na mira das multinacionais de call center, atraídas pelos baixos salários e qualificações disponíveis, é também bastante elucidativo do que significa para o conjunto da população o aprofundamento do regime da austeridade, baseado no desemprego e na precariedade. Guilherme Ramos Pereira, secretário-geral da Associação Portugal Outsourcing, explica com total clareza como os tempos são favoráveis para o seu negócio: “Com a crise, há de facto uma oportunidade excepcional”.

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