Call-centrismo e como a Teleperformance não é o “Melhor Sítio para Trabalhar”

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A multinacional francesa Teleperformance (TP), tal como tantas outras, veio para Portugal em busca de melhores condições para os seus negócios, o que é o mesmo que dizer que veio à procura de mão de obra eficiente e, muitas das vezes qualificada, a preço de saldo. Porque, muito embora esta corporação se farte de ganhar distinções de “melhor sítio para trabalhar” (pelo Great Place to Work Institute ou pela revista Exame), a realidade deixa muito a desejar.

Uma realidade onde vingam os baixos salários, os vínculos precários e onde o desgaste psicológico é gigante devido à pressão constante para que se produza bem, muito e rapidamente. Foram estas as razões que levaram alguns dos trabalhadores e das trabalhadoras da Teleperformance de Setúbal a organizarem-se, com o apoio do Sindicato dos Trabalhadores dos Call-Centers (STCC), e a usarem o seu direito à greve como forma de reivindicarem melhores condições de trabalho, nomeadamente: o aumento do salário base (no valor de 200€); a passagem para contratos efectivos dos que mantinham um vínculo precário com a Emprecede, uma empresa de trabalho temporário criada pela Teleperformance para seu uso exclusivo (uma fraude, portanto!); e um plano de incentivos justo.

A greve foi convocada por um único departamento (com 100% de adesão), o dos pagamentos (Payments), muito embora as condições precárias sejam transversais a toda a Telerpeformance em Portugal. Desta greve, não resultaram nem retaliações, nem despedimentos mostrando-se que, apesar dos resultados terem ficado aquém do desejado, a luta organizada ainda é possível e contínua, sem dúvida, a ser necessária. O que se conseguiu, então? O departamento dos pagamentos (Payments), e ainda um outro da área administrativa (Back Office) conseguiram que lhes fosse atribuído um prémio de 150 euros, claro que sempre sujeito a determinadas condições, não fosse a Teleperformance o que é. No que toca à passagem dos contratos precários para contratos efectivos, muito embora se tenham feito avanços, nem todos os trabalhadores foram abrangidos e mesmo alguns dos que foram perderam a antiguidade.

Mesmo sem visibilidade mediática, esta greve, para além da adesão por parte dos trabalhadores, resultou em conquistas reais. E no caminho o STCC ainda conseguiu aumentar o número de sindicalizados! Para já, está prevista uma nova ação de sensibilização no dia 2 de Maio na Teleperformance em Setúbal, com o intuito de continuar a mobilização.

Claro que a TP, mesmo tendo cedido, tratou de se acautelar e acabou a criar um departamento de pagamentos na Infante Santo, em Lisboa. Porquê? Porque é dividindo que se reina e desta forma, mesmo havendo greve em Setúbal, (onde os trabalhadores já estão organizados), a nova equipa, ainda alienada da luta que se trava internamente, garantirá sempre que o negócio não pára. E quanto custou a criação desta nova equipa? Será que daria para aumentar os salários de forma real, tal como reivindicado na greve? Ou a luta organizada em Setúbal foi assim tão perigosa para compensar um investimento repentino num novo departmento? Ou será só uma forma de pôr os trabalhadores de Setúbal em risco ou mesmo com medo?

A Teleperformance é mais uma daquelas corporações que vai “colonizando” o mercado de trabalho um pouco por todo o mundo (e no caso, um pouco por todo o Portugal), sempre em busca de poupar ao máximo nas condições de trabalho de quem lhes produz o negócio e valendo-se sempre do velho argumento que “ao menos estamos a dar-te trabalho”.

Porque ainda precisamos de muitas mais lutas e porque é essencial termos um mercado de trabalho livre da precariedade, junta-te a nós e ao Sindicato dos Trabalhadores dos Call Centers no Precfest, no pŕoximo dia 1 de Maio!

Ver evento do Precfest aqui.

 

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