Carta Aberta a Angela Merkel de organizações de trabalhadores precários do Sul da Europa

Carta Aberta da Associação de Combate à Precariedade – Precários Inflexíveis, de Portugal, e da Oficina Precaria, em Espanha, enviada a Angela Merkel na sequência das declarações da Chanceller alemã acerca do número excessivo de licenciados em Portugal e Espanha.

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Cara Chanceler Merkel, 

A semana passada pudemos uma vez mais saber o que planeia para os nossos países. Depois de nos últimos anos sob a sua instrução os governos de Portugal e Espanha terem apostado tudo na precarização do trabalho e na destruição do Estado Social, começando pela Educação e terminando na Saúde, soubemos há dois dias que o plano é sermos pobres e burros. 

Quando a líder de um país se dirige a outros países, dizendo-lhes que têm licenciados a mais, isso é uma ofensa. Mas há já muito tempo que a sra. institucionalizou este tipo de ofensa, para não falar em ataques à soberania. Mas detenhamo-nos no que disse: “Países como Portugal e Espanha têm demasiados licenciados”. Ora, se em Espanha a população licenciada atinge os 37%, em Portugal esta é apenas de 17,6%. Curiosamente, no seu país essa média é de 25,1%. Acha que o seu país tem licenciados a mais ou a menos?

Portugal e Espanha são dois países que saíram de ditaduras e que construíram em ritmo acelerado e decidido Estados Sociais que permitiram formar os seus quadros, através de universidades públicas. Já na Alemanha o nível de licenciados vem de trás, mas responde naturalmente a um consenso universal: o de que os pais e os países veem grande vantagem em que os seus filhos saibam cada vez mais, tenham um conhecimento cada vez mais universal e que lhes permita viver uma vida digna, consciente e que permita à sociedade melhorar-se continuamente. Infelizmente percebemos que a senhora Merkel não partilha desta visão. Pelo menos não para os países do Sul, em particular os ibéricos, que tão desdenhosamente colocou no mesmo saco, apesar de, neste tema em particular, eles serem tão diferentes. 

O problema, senhora Merkel, não é Portugal e Espanha terem licenciados de mais. O problema é Portugal e Espanha terem Angela Merkel a mais. É terem ministros da Educação como Nuno Crato e Jose Ignacio Wert, terem primeiros-ministros como Mariano Rajoy e Passos Coelho. É que estes ministros são Angela Merkel. E já fizeram tudo o que lhes mandou. Com gosto. Já destruíram e pretendem continuar a destruir as universidades públicas, os serviços públicos, os Estados Sociais, o trabalho. Estes ministros de Merkel colocaram o desemprego a níveis nunca antes registados, precarizaram os trabalhadores e trabalhadoras, e exilaram, expulsaram centenas de milhões de portuguesas e espanhóis de Portugal e de Espanha. Muitos destes, licenciados, claro. Provavelmente o seu país recebeu muitos dos nossos exilados, e beneficiar-se-á agora das suas formações superiores.

Sabemos que a senhora diz o que quer e quando quer, e que os subservientes ministros de Portugal e Espanha acatam, aceitam e implementam tudo. Mas sabemos que o plano de transformar o Sul da Europa num local de mão-de-obra barata encontrará resistência. Precários nos Querem? Rebeldes nos Terão!

Versão em castelhano no site da Oficina Precaria

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