Cavaco faz "consultas" antes da "decisão" sobre o governo

Demasiada informação para processar. Ontem enquanto se queimavam bandeiras portuguesas na Bolívia, Cavaco Silva recebia em Belém os partidos e os patrões para “discutir” se aceitava o retalho CDS-PSD, ao mesmo tempo que no Eurogrupo felicitavam Maria Luís Albuquerque pelo acordo e que na Alemanha se dava “luz verde” ao arranjo Portas-Passos. Ainda houve tempo para ouvirmos a opinião da Confederação do Turismo sobre a democracia, que disse que não podia haver eleições porque isso podia afastar turistas.

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É esta mensagem aparentemente caricata de Francisco Calheiros, presidente da Confederação de Turismo de Portugal que sumariza a política portuguesa nos dias em que vivemos. Que a democracia não podia atrapalhar os mercados ou as reformas é algo que Durão Barroso nos relembrou a semana passada, tal como António Saraiva, que recordava que os processos eleitorais e democráticos não poderiam pôr em causa as reformas e a reforma do Estado. Agora descobrimos que não pode sequer atrapalhar os turistas. A democracia em Portugal é assim como aquele chapéuzinho que se põe nos cocktails. É bonita e não serve para nada, nem dá para mexer bem o copo. O Turismo de Portugal poderia até criar uma nova campanha: “Democracia não rima com o Verão”.

Enquanto partidos da oposição – PCP, BE, PS – clamaram a uma voz por eleições, os patrões e os partidos da coligação apoiaram-se na sua “estabilidade”, marca que já devem estar prestes a registar. O presidente da Confederação dos Agricultores viu “com bons olhos” a manutenção da coligação, porque “eleições antecipadas seriam pior solução para o país». António Saraiva, patrão dos patrões, presidente da CIP, deixou clara a posição dos patrões “Não defendemos eleições, entendemos que no quadro parlamentar existem soluções“. O presidente do Turismo de Portugal disse, como já referido, que recusavam eleições por causa dos turistas, já que «tudo o que seja instabilidade política numa altura em que há uma semana começou a nossa época alta é algo que não precisamos». Apenas João Vieira Lopes, da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP), exigiu uma «alteração da política económica» a qualquer Governo, no «atual quadro parlamentar», incluindo a possibilidade de «novas eleições».

Ficámos ainda a saber pela boca de António José Seguro a iminência de um novo programa “O nosso país está confrontado a necessidade de negociar um novo programa, chama-se ele programa cautelar ou outro programa qualquer”, o que também poderá ter precipitado a derrocada da coligação na semana passada.
PSD e CDS falaram às câmaras, mas pode-se bem dizer que já têm a sua “cassette” e que não é preciso ouvi-los para saber o que vão dizer: “estabilidade… responsabilidade… cumprir o memorando… confiança… coesão… unidade…”.
Hoje caberá a Cavaco Silva anuir à decisão da troika e da Alemanha, que poderiam pelo menos ter tido a elegância de não se anteciparem à “decisão” do Presidente da República. Todas as máscaras vão caindo. Como a democracia.
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