Código do Trabalho: as insónias e as pressões do Governo

Pois é! Parece que o Governo teve muito medo que a revisão do Código do Trabalho – aprovada ontem – não passasse! Sabendo que havia deputados e deputadas do grupo parlamentar do PS que, em coerência com as suas posições enquanto estavam na oposição, não concordam com esta cambalhota e se preparavam para votar contra o documento (como veio a acontecer), o Governo não hesitou em pressionar para impor a disciplina do silêncio e da obediência. É a regra absoluta da maioria, que não tolera a qualquer oposição e só faz acordos com os poderosos. Felizmente para o Governo, a abstenção da direita parlamentar já tinha assegurado a aprovação…

Notícia Diário de Notícias:

Código Laboral fez tremer Governo
JOÃO PEDRO HENRIQUES e CATARINA ALMEIDA PEREIRA

(…)

O Governo tremeu com a votação final, ontem, no Parlamento, do novo Código Laboral. A maioria PS é de seis deputados (121 contra 109 da oposição). Mas cinco deputados socialistas fizeram questão de votar contra, deixando a maioria “pendurada” por um único deputado. Se toda a oposição votasse contra o Código (o que não aconteceu, o PSD e o CDS abstiveram-se) e se faltassem à votação outros deputados do PS (o que aconteceu) o diploma arriscava-se a ser chumbado.

Face a este cenário, o Governo e a direcção da bancada pressionaram directamente os cinco deputados do PS que tinham anunciado votar contra (Manuel Alegre, Teresa Alegre Portugal, Matilde Sousa Franco, Júlia Caré e Eugénia Alho).

Uma dessas deputadas, Matilde Sousa Franco, admitiu ao DN que foi ontem chamada para “uma conversa” com o ministro Augusto Santos Silva (Assuntos Parlamentares). A parlamentar assumiu ainda que a decisão de votar contra o sentido oficial do PS foi para si muito difícil: “Estive noites sem dormir.”

O Governo decidiu dramatizar junto dos contestatários do PS, acenando com a hipótese de o diploma ser chumbado. Circulou mesmo a informação de que estaria disposto a tirar desse chumbo “todas as consequências”.

(…)