Como começar? (testemunho enviado ao P-I)
Sei que a responsabilidade é minha, mas chegar a esta idade ter que aceitar de tudo para trabalhar e ainda sentir-me discriminada, é grave. Pois trabalho como recepcionista num cabelereiro onde trabalham emigrantes, todos têm contrato de trabalho, excepto eu que sou nativa do país.
Tenho pena em dizer que me sinto discriminada, pois sempre pensei que todas as pessoas têm direitos e deveres, mas neste momento no nosso país há associações que ajudam, defendem emigrantes (eu já fui uma delas) e agora… faço parte de um grupo que vive sem direitos, excepto com deveres, desde para quem dá emprego até ao Estado, e ainda ouço dizer que os portugueses não querem trabalhar… como é? Será?
Mesmo assim, reconheço que as novas gerações estão piores, porque eu ainda tive a possibilidade de ter tido um bom emprego, por razões várias deixei de ter, quando regressei ao mundo do trabalho verifiquei que estas novas gerações não têm nada, e é muito preocupante.
Tenho um filho com 27 anos que está nas mesmas condições.
Desde que voltei ao mundo do trabalho, percebi que sou velha de mais, desactualizada e também como não tenho nenhum curso profissional, se bem que licenciada, não há nada compatível para mim. Já trabalhei numa instituição de deficientes físicos-mentais (mas não alinhei em situações), fui despedida, de seguida, num lar de idosos onde se ganhava 1.50€/hora, onde tive que sair porque travatava bem demais os velhotes e acabei a desbravar pêssegos numa propriedade no Alentejo, onde para além de 8 horas de trabalho sem descanso (excepto almoço) sempre com os braços levantados, ainda tive que sofrer o problema dos produtos químicos que deitavam na fruta: para mosca, para piolho, para crescerem, para, para… para…
E assim, lá acabei por arranjar como recepcionista… E com recibos verdes…. Não sei até quando…
(testemunho enviado ao P-I)
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