Como estamos de férias não falamos de trabalho, nem da falta dele.

Chegou a silly season, ou seja, aquela época do ano em que não deveria haver notícias e que, por isso, os jornais e as televisões nos apresentam histórias muito interessantes sobre polvos que adivinham resultados de jogos de futebol e outras coisas do mesmo género.

Como sempre, nesta altura do ano não falamos sobre trabalho, e muito menos sobre a falta dele.  Aparentemente, durante o período de férias as pessoas não querem saber disso.

Mas este ano (tal como no anterior e, muito provavelmente no próximo), visto que estamos no olho dessa tempestade chamada crise (tanto faz que se a adjective como internacional, financeira ou da dívida pública), as notícias não deveriam ser iguais.

E não são.


As notícias nas últimas semanas foram dominadas pelos muito ricos a falar para os muito ricos: os bancos foram sujeitos a “testes de stress” e a PT vai comprar isto e vender aquilo.

Ver os bancos que foram salvos com o nosso dinheiro – para o qual trabalhamos (lá está a maldita palavra) e do qual descontámos (ou não) e pagámos impostos – assegurar, garantir e rejubilar com pancadinhas nas costas que estão de boa saúde só não nos fará perder a cabeça porque estamos de férias.

No início da estação houve umas interessantes reportagens sobre trabalho sazonal e sobre as alterações que provocava na taxa de desemprego. Curioso foi ver o Ministro da Economia (Vieira da Silva) pedir para que se tenha cuidado com as leituras desse abrandamento do crescimento da taxa de desemprego, que é como quem diz: “estejam caladinhos porque em Setembro está pior”.

Também a gaffe da Helena André (Min. Trabalho e Solidariedade Social) sobre o aumento do salário da função pública, fez correr alguma tinta; não tanto por causa da vida de milhares de pessoas que esse aumento iria afectar positivamente, mas mais porque poderia significar a primeira remodelação do Governo Sócrates II.

Só Passos Coelho conseguiu por toda a gente a falar de emprego e de desemprego, quando sugeriu uma revisão constitucional que retirasse a expressão “justa causa” e a substituísse por “razão atendível” no artigo Artigo 53.º (Segurança no emprego).

Mas no Verão não se fala de emprego ou da falta dele. Este Verão só se fala de boas notícias para os bancos e para quem quer baixar as expectativas e a vida de milhões de pessoas.

No Verão as pessoas querem boas notícias. Querem boas notícias principalmente no que toca às suas vidas e aos seus empregos. Querem saber que quando voltarem de férias não houve um líder da oposição que quer mais precariedade para as suas vidas. Querem saber que o Governo implementou medidas de combate verdadeiro ao desemprego e que não abandonou quem está desempregado às sortes. Querem que os bancos percebam que se não têm stress o devem ao stress de milhares de pessoas que têm hoje menos rendimentos (porque houve um aumento de impostos), menos emprego e mais precariedade.

Ricardo Sant’ Ana
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