Competitividade, internacionalização e salários baixos

Vieira da Silva trocou a pasta ministerial do Trabalho pela da Economia e já mostrou ao que vem: quer competitividade, internacionalização e salários baixos. A retórica já é conhecida e revela as perspectivas sombrias para quem tenta viver do seu trabalho em Portugal.

O ministro foi um dos oradores na sessão de apresentação do “Relatório de Competitividade 09”, promovida pela Associação Industrial Portuguesa (AIP). Segundo esse estudo, a produtividade em Portugal está 30% abaixo da média da União Europeia. A produtividade depende da inovação, da organização, da adequação tecnológica, da comercialização dos produtos, da capacidade de criar valor. E Rocha de Matos, presidente da AIP, explicou à imprensa as causas deste problema em Portugal: “A culpa deste atraso é do sistema”.

O “sistema”, como bem sabem os adeptos do futebol, tem as costas largas. Mas talvez ficasse bem aos empresários portugueses reflectirem sobre as suas próprias responsabilidades na matéria. Afinal, não consta que os trabalhadores portugueses a trabalhar em empresas europeias façam baixar os seus níveis de produtividade ou que as filiais em Portugal de empresas transnacionais sejam menos produtivas que as que funcionam noutros países.

Vieira da Silva também se pronunciou sobre este atraso e definiu prioridades: “Os recursos públicos devem ser dirigidos ao aumento da competitividade”, porque “a competitividade é a questão estratégica que deve permitir evitar o risco de estagnação prolongada da economia e ultrapassar os problemas estruturais”. Os chavões são conhecidos e os resultados também.

O novo Ministro da Economia revelaria ainda duas outras ideias reveladoras dos tempos sombrios que estão para ficar: os salários deverão subir menos de 1,5%, porque “não será sustentável seguirmos políticas de rendimentos e políticas salariais desajustadas do ciclo económico em que vivemos”, e “a internacionalização e a competitividade são conceitos gémeos”.

Isto significa o habitual: a competitividade das empresas portuguesas deve depender dos baixos salários e, com o fraco mercado interno que resulta de anos consecutivos de perda de poder de compra, tentaremos vender os nossos produtos baratos lá fora. Quem trabalha continuará, por isso, a pagar a factura da fraca competitividade “do sistema”. Afinal, é só mais Sócrates.

João Romão

(economista e membro dos Precários Inflexíveis)

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