Conclusão do dossier "Investigadores pelo Mundo"

Este é o último testemunho do dossier “Investigadores pelo Mundo”. Neste dossier, que se prolongou ao longo dos dois últimos meses, recolhemos testemunhos de 14 investigadores a trabalhar em 9 países diferentes. Os testemunhos chegaram-nos de Inglaterra, França, Suíça, Bélgica, Holanda, Dinamarca, Noruega, Estados Unidos e Brasil, de pessoas a fazerem doutoramento ou pós doutoramento. Estes testemunhos deram-nos uma visão de como funciona a investigação nos países onde vivem e as principais diferenças que encontram em relação à investigação em Portugal.
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Em conclusão, este dossier mostrou que a precariedade na investigação a que estamos sujeitos em Portugal não só não é inevitável, como está longe de ser a regra nos países descritos. O primeiro mito a ser destruído é que os investigadores de doutoramento e de pós doutoramento não são trabalhadores. Na maioria dos países que foram descritos, isto não é o caso, e têm direito a contratos de trabalho, com todos os direitos. Também com contratos de trabalho, evidentemente, trabalham os técnicos de laboratório ou dos institutos, ao contrário do que se passa por cá, onde muitas pessoas exercem funções permanentes por meio de bolsas que são renovadas ao longo de décadas, sem qualquer tipo de protecção laboral.
Em segundo lugar, cai por terra a ideia espalhada erradamente pelo ministério de Nuno Crato na sociedade portuguesa que os investigadores fazem o que querem, sem trazerem um benefício ao país. Vários testemunhos descrevem a importância que é dada à investigação nos seus países, enquanto motor de produção de conhecimento e de cultura na sociedade, com o apoio da divulgação científica, nas várias áreas do conhecimento.
Finalmente, em Portugal fazem-se cortes retroactivos nas bolsas, retirando os incentivos à internacionalização e à apresentação de trabalhos em congressos. Os investigadores que nos descreveram as suas situações, falam-nos de apoios estruturados e estáveis nas suas carreiras, fomentando a solidez necessária para a construção de uma carreira de investigação de ponta.
O último testemunho que nos chega de França é de uma investigadora anónima, a fazer o seu doutoramento no Institut de Génétique et de Biologie Moleculaire et Cellulaire.

1.Que investigação fazes (IC, PhD, pós doc, etc.), área profissional, e o teu trabalho está integrado num projecto de investigação mais amplo ou é um projecto individual?

Sou estudante de doutoramento (1º ano) no IGBMC (Institut de Génétique et de Biologie Moleculaire et Cellulaire), e o meu trabalho começou por ser um projecto individual mas que fará parte de uma grant ANR que o laboratório ganhou.

2. Que tipo de vínculo contratual tens (bolsa, contrato, etc)? Financiado por quem?  Sempre foi assim?

Eu entrei no programa doutoral do instituto e apesar de lhe chamarem bolsa, é um contracto de trabalho de 3 anos com um possível 4 ano, financiado pelo instituto.

3. Que tipo de vínculo têm os teus pares (colegas de laboratório, professores, orientadores)?

Colegas de trabalho têm todos contractos ou com o instituto, ou com a universidade, ou com outras instituições! O meu PI tem uma posição permanente no instituto, assim como os dois engenheiros do laboratório.

4. Quais as principais diferenças que encontras relativamente à investigação em Portugal?

Neste momento o dinheiro disponível, não será assim em todos os laboratórios, mas no meu podemos dispor do que precisamos sem nos preocuparmos em ter de contar os tostões. E o facto de ter um contracto e descontar para os impostos, faz com que me sinta um trabalhador como os outros e não uma ‘bolseira’.

5. Tens apoio para fazer uma temporada/trabalho de campo noutro instituto/país para melhorar a investigação que fazes?

Sim, ainda estou no início mas já tenho em perspectiva passar uma temporada fora do meu laboratório.

6. Qual a percepção pública dos investigadores no país onde trabalhas?

Acho que apoiam muito a ciência e investigação. Frequentemente há campanhas na TV, colectas de fundos para fins de investigação e visitas ao instituto. Acho que os franceses no geral apoiam o financiamento da ciência como motor da economia do seu país.

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