Concursos individuais da FCT: continua o despedimento colectivo na Ciência

Saíram hoje os resultados provisórios do concurso individual de bolsas de doutoramento e de pós doutoramento da FCT. A operação de marketing do governo é igual à de sempre, os efeitos perversos das suas acções também. No campo da investigação, em particular, o processo de despedimento colectivo que este governo tomou em mãos no momento em que tomou posse mantém-se.

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A FCT concedeu 403 bolsas individuais de doutoramento, 465 de pós-doutoramento, 15 bolsas individuais de doutoramento em empresas e 600 bolsas para programas doutorais. No concurso individual de doutoramento, houve 2239 candidaturas, no de pós doutoramento, 2022 (ver gráficos abaixo).

A taxa de aprovação nestes concursos continua muito baixa, de 18% nos doutoramentos e de 23% nos pós doutoramentos. No ano passado atingiu os valores mais baixos de sempre, 9% para os doutoramentos, 10% para os pós doutoramentos. O número de bolsas mantém-se muito próximo do concurso do ano passado (mais 127 bolsas de doutoramento, menos 31 bolsas de pós doutoramento). O número de candidatos, no entanto, desceu consideravelmente: em 2012 ficaram sem bolsa 3169 pessoas, em 2013 foram 3118, mas este ano apenas 2239 pessoas se candidataram, o que terá acontecido com as 879 pessoas sem bolsa que pararam de se candidatar? Mais vítimas do despedimento colectivo do governo na área da investigação.

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O governo dirá, naturalmente, que o concurso foi um sucesso em relação ao ano passado. É mentira. Houve, no total, 1018 bolsas de doutoramento atribuídas, mas 15 delas são para doutoramentos em empresas, e 600 para programas doutorais, que não cobrem todas as áreas do saber. Nomeadamente, artes, humanidades e ciências sociais saem, mais uma vez, muito prejudicadas desta atribuição de bolsas. A ideia do governo é assumida, conhecimento que não pode gerar patentes, não serve para nada (ler aqui). E mesmo tendo em conta o número total de bolsas atribuído, um número tão baixo não é atribuído desde 2003, excluindo, naturalmente, o concurso dizimador do ano passado (ler aqui).

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Este concurso, com a atribuição dos resultados no final de Janeiro, novamente reforça a completa desconsideração pelo sistema de investigação. Os centros de investigação, institutos, universidades e os próprios bolseiros e investigadores tiveram de sobreviver desde Setembro sem fazerem a mais pequena ideia de como seria o seu futuro. Na investigação, não só a precariedade é total, como a insegurança continua a ser máxima.

Finalmente, mesmo para quem teve bolsa, a vida não será fácil. Os valores das bolsas não são actualizados desde 2002, representando uma perda do poder de compra de 21.8% (ver gráfico). Além disso, as bolsas são mais uma forma de eternização da precariedade, o inquérito feito aos investigadores revelou que 77.8% dos investigadores nunca tiveram um contrato de trabalho, 69% são bolseiros e apenas 21.5% rejeitam a possibilidade de emigrar (mais informação aqui).

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