Contrato zero-horas: mais de um milhão de trabalhadores em precariedade máxima no Reino Unido

No Reino Unido emerge de forma relevante uma forma de precarização que pouco conhecemos em Portugal: o contrato zero-horas. Este contrato de precariedade máxima é assinado com empresas que usufruem da disponibilidade de trabalhadores sem lhes oferecer trabalho e sem lhes pagar – sob o contrato zero-horas quem trabalha é informado no próprio dia ou no início da semana se e quantas horas vai trabalhar, recebendo depois à hora. Estudos recentes estimam que mais de um milhão de pessoas trabalha assim.

Palácio de Buckingham com cartaz do sindicato UNITE
Palácio de Buckingham com cartaz do sindicato UNITE

Os sectores económicos onde mais proliferam estes contratos são hotéis, catering e restauração, educação e serviços de saúde. Estima-se que por exemplo nos MacDonalds no Reino Unido mais de 90% dos trabalhadores estão a contratos zero-horas, mas sabe-se que em outras cadeias de alimentação como a Subway também há quem trabalhe assim. Os empregadores, que têm utilizado crescentemente esta forma de contratação com o aumento do desemprego (camuflando também assim as estatísticas), vêem apenas vantagens em ter trabalhadores que podem trabalhar semana-sim-semana-não, dia-sim-dia-não, sem lhes pagarem quando não estão. A maior parte das empresas exige ainda exclusividade, o que significa que muitos trabalhadores a contratos zero-hora não podem cobrir o seu desemprego parcial ou total com outras actividades. Embora as estatísticas oficiais do governo britânico apontem para 250 mil pessoas estejam a trabalhar a contratos zero-horas, um relatório divulgado ontem pela Chartered Institute of Personnel and Development (CIPD), resultado de inquéritos a mais de 1000 empregadores, estima que o número total já ultrapasse o milhão.

O Guardian dizia há poucos dias que os contratos zero-hora são a personificação mais evidente do exército de reserva enunciado por Karl Marx e que, ironia das ironias (ou coerência das coerências), no Palácio de Buckingham, um dos símbolos máximos da estratificação da sociedade, 90% dos trabalhadores estão a trabalhar com esta forma de precarização máxima. Os sindicatos contestam esta forma de contratação, enquanto os patrões locais repetem a cassette neoliberal que também se ouve por cá (não só entre patrões mas também da própria boca do líder da UGT): “ainda bem que há contratos precários senão haveria ainda mais desemprego”, “é melhor trabalhar de forma precária do que estar desempregado”. E assim se vai aumentando a precariedade, que por sua vez aumenta o desemprego. O século XIX não está ao virar da esquina, já chegou de novo – quer sob o nome de minijobs, falsos recibos verdes ou contratos zero-horas, entrámos numa máquina do tempo que é urgente destruir.

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