Corporações e “colonização” do mercado de trabalho: o caso do BNP Paribas
O BNP Paribas Securities Services, um banco de investimento francês, é mais uma daquelas corporações que vão colonizando o mercado de trabalho um pouco por todo o mundo. Portugal não fugiu à regra e foi “abençoado” com um centro operacional com cerca de 1200 trabalhadores.
O BNP Paribas diz ter vindo para Portugal devido às “características dos Recursos Humanos”, o que é o mesmo que dizer que vieram em busca de mão de obra qualificada a preço de saldo; muito ao estilo do que já faziam na Índia. Trata-se de uma entidade empregadora que se gaba de recrutar mão de obra de diferentes áreas, mas que apenas exige o 12º ano no momento da candidatura e que – apesar de ser um banco – não aceita o acordo coletivo de bancários e não trata os seus funcionários como bancários, mas sim como técnicos de operações. E o que faz um técnico de operações? Faz tudo o que o banco disser que tem de ser feito.
Esta entidade empregadora nao tinha o hábito de pagar horas extras, até que o caso chegou à Autoridade para as Condições do Trabalho em 2012 e graças à qual o banco passou a saber que, à luz do direito português, tinha de pagar as horas que fossem trabalhadas para além do normal período das 8 horas.
O regime de isenção de horário (artigos 218º e 219º Lei 7/2009) é oferecido como contrapartida para aceitar mais responsabilidades e vendido como “aumento salarial” quando não o é. E o regime das astreintes, conhecem? É um regime de trabalho francês que, embora não esteja previsto no Código de Trabalho português, o Banco decidiu aplicá-lo em Lisboa, mesmo que não compense os trabalhadores da mesma forma que seria obrigado a compensá-los em França.
No que toca aos incentivos económicos, sejam estágios IEFP, isenções da segurança social para pessoas abaixo dos 30 anos e que nunca tenham tido um contrato de trabalho, o banco gosta e leva esta oportunidade oferecida pelo Estado português muito a sério. Em 2016, foram contratadas cerca de 100 pessoas através de estágios IEFP, a que se juntam os jovens abaixo dos 30 e à procura do primeiro trabalho. No meio disto tudo, quanto é que será que o Estado perde?
Existem ainda os estágios não inseridos em protocolos com faculdades, “pagos por fora” e que deixam o trabalhador fora do regime da Segurança Social. Uma corporação que usufrui de incentivos económicos a promover trabalho não declarado? Pois.
O banco parece agir como se não existisse lei, defendendo a velha máxima do “isto não é a função pública”, como se no privado não pudesse existir o direito a ter direitos porque o negócio é que manda. E o que permite que esta corporação aja desta forma? Hoje em dia, o trabalho com pleno gozo de direitos parece só existir na função pública ou, no caso do privado, no âmbito de acordo coletivo de trabalho. Se não se estiver em nenhum destes dois cenários, faz-se parte da “zona branca”, uma zona onde os sindicatos não conseguem entrar e que fica sujeita à boa vontade da entidade empregadora de se decidir a respeitar o código do trabalho, pois a entidade responsável por impôr esse respeito, a Autoridade para as Condições do Trabalho, não tem ela própria as condições necessárias para o fazer.
Este tipo de multinacionais cria emprego, sim, mas a troco do quê, mesmo? De um mercado de trabalho onde existem poucos direitos e muitos deveres e onde reina a lógica do Business as Usual?
Defender a ideia de que as condições laborais são um entrave ao negócio, é não perceber que para o negócio existir são precisos trabalhadores e trabalhadoras cujas necessidades não podem ser ignoradas.
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Visto o autor do texto não se ter identificado, também não o farei!
Trabalho nesse monstro que é o BNP Paribas Securities Services e não me revejo minimamente no texto apresentado.
Sinto que a pessoa não deve ter trabalhado noutra empresa ou saberia que se passam coisas bem mais graves fora do mundo BNP.
Esqueceu-se também de referir que 80% dos estagiários ficam a trabalhar com contrato sem termo no BNP, algo que é verdadeiramente raro no mercado português.
Esqueceu-se também de referir que temos direito a seguro de vida, a um seguro de saúde acima da média, a subsídio de transporte, a cheques criança, entre outros benefícios que tenho a certeza que muitos gostariam de ter acesso nos seus locais de trabalho.
Verdade que há sempre coisas a melhorar, mas se o colega me souber indicar uma empresa sem problemas, enviarei o meu CV de seguida.
É muito fácil dizer mal de uma organização, mas adorava que o colega tivesse também apresentado soluções, essas sim, difíceis de encontrar e de agradar a toda a gente!
Com os melhores cumprimentos
Colega
Desafio o colega que comentou anteriormente a apontar em que ponto do texto é que o autor falta a verdade. Trabalho no banco há 8 anos. Sim a motivação principal para o estabelecimento em Portugal foram os baixos salários. Sim o banco recusa convenções colectivas ou diálogo com sindicatos. Sim o banco não pagava horas extras. Sim existiram denuncias a act. Sim as práticas em torno do iht e das astreintes são ilegais, e persistem apesar de todos os esforços envidados por trabalhadores ocupados a defender os seus direitos, colega. Sim os estágios são na verdade pretexto para verdadeiros postos de trabalho. Sim, sim e sim colega 🙂 chocante mas verdadeiro 🙂
E o argumento da banalização das práticas também não cola colega 🙂 porque nao é porque se desrespeita e ignora a lei neste país que isso de repente é aceitável. Acordem colegas. Respeitem-se e respeitem os outros. E unam-se.
Então unam-se e procurem uma empresa que vos satisfaça! Só enaltecem o mal quando de certeza há muito mais coisas positivas do que negativas!
Trabalho no BNP há cerca de 6 anos e nunca encontrei nenhuma destas situações. Este tipo de histórias do bicho papão por vezes enjoa, e servem apenas para atirar areia para os olhos. E noutros casos, servem apenas para inflamar as pessoas e não olhar para os verdadeiros problemas.
Já alguma vez pensarem que o BNP é um banco e não um ser vivo que pensa e comunica? Se alguém está a atropelar os direitos dos trabalhadores são os gestores do banco, e apenas alguns. E muito provavelmente, a questão dos horários, “astreintes” e horas extra devem até partir dos colegas do lado e toda essa mesquinhez.
Sempre que fiz horas extra foram pagas, a tempo e horas e nem sequer me pediram qualquer tipo de justificação. A grande maioria dos estagiários foram contratados pelo banco em contratos sem termo como já o Zé Maria tinha dito.
É claro que o BNP veio para Portugal pela mão de obra mais barata, qual seria o propósito de ter operações remotas com todo esse custo extra, se depois a mão de obra for paga ao mesmo preço de França ?
Tenham um bocado de cabeça, e pensem um bocado nas coisas. Se o BNP se desviar da lei (e de certeza que o faz) então são esses pontos que devem ser focados e não simplesmente andarem a chorar porque não têm o mesmo salário que se ganha em França.
Caros colegas, o BNP é só chulice. Salários que não correspondem ao nível de responsabilidade das tarefas desempenhadas!
A CT faz-lhes a folha…os managers têm um medinho que até encaracolam as unhas dos pés. Faço o meu trabalho rápido e bem (óbvio que não sou perfeito). Agora um gajo que não é meu chefe a mandar fazer horas extra com 5 min de antecedência a uma sexta feira, para ficar la duas horas sem fazer nada só porque lhe deu na gana….bazei meus amigos. A coleguinha graxista ficou e depois queixava-se que não gostou…aposto que essa vai ser promovida sem competências e eu na m****. Pois Team Leaders que de Leaders não tem nada. Aproveitam-se do trabalho duro dos putos estagiários e quando corre mal são os mesmos putos que levam a culpa e se for preciso gritaria à frente dos outros. Os gajos das outras sucursais acham-se os reis da cocada preta também, nós para eles somos gado. Fazem m**** e culpam pessoas dedicadas e competentes como eu que faço o meu trabalho e o deles.
Caros colegas, vamos parar de dourar a pílula. Quando o BNP apareceu em Portugal precisava de “expertise” rápido. Não é qualquer recém-licenciado que ajuda a montar toda uma location. Quem entrou nessa altura teve muita sorte: conseguiu melhores salários e entrou numa altura em que se abriram muitas oportunidades de carreira. Também foi nessa altura em que o banco recrutou os melhores talentos. É normal que as pessoas que entraram nessa fase vejam as coisas de outra forma.
Mas nos últimos 3, 4 anos isto já não é assim. A gestão já está assegurada; quaisquer “trocas de cadeiras” que aconteçam são colmatadas por pessoas vindas de França; e, para o resto, o banco opta cada vez mais por “verdinhos” – se possível, estagiários. Pelas razões citadas no artigo, e também porque os salários e carreiras dentro do banco estão cada vez mais a estagnar, o que não é atraente para quem já tem uma longa carreira e bons conhecimentos na área. Quem está por dentro do assunto sabe que neste momento os RH raramente contratam alguém acima dos 30 anos. As vantagens dessa abordagem são evidentes.
Hoje em dia, o BNP é um bom início de vida profissional, e é um facto que oferecem estabilidade laboral. Mas obter a efectividade não é tudo. O trabalho que se faz aqui envolve responsabilidades enormes, com possíveis impactos de milhões de euros, exigindo uma qualidade de mão de obra acima do normal, capaz de executar e também de inovar; e no entanto é remunerado ao nível de um qualquer projecto de “registo de dados” – tanto que nem nos reconhecem como bancários.
Se calhar tudo isto encaixa-se na visão do BNP para Portugal, se calhar o objectivo nunca foi sermos uma “grande” location, com bom expertise, mas sim apenas a “sweatshop” que é preciso para despachar o trabalho que os franceses não conseguem. Se isto é bom ou mau, cada um tem direito à sua opinião. Mas não vamos é negar que o BNP se aproveitou de muitos “buracos” para chegar onde está agora. Reconhecer estes problemas é valorizar o nosso trabalho enquando colaboradores.