Da miopia à esquizofrenia: Barroso ataca a austeridade ou nem por isso?

Em entrevista hoje Durão Barroso, tendo já em vista uma futura candidatura ao terceiro mandato à frente da Comissão Europeia, veio dizer que a política de austeridade “atingiu o seu limite”. Há poucos meses Barroso defendia com unhas e dentes a austeridade como único caminho. Agora põe questões novas, mas rapidamente realinha o discurso: o problema da austeridade não é político, é um problema de comunicação.

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Foi apenas em Janeiro passado que Durão Barroso afirmou numa visita a Portugal, comentando sobre a austeridade, que a “crise é uma questão política, porque na sua base está o facto de os Estados-membros estarem dispostos a fazer tudo o que for necessário para manter uma moeda única”. Não foi preciso muito tempo para Barroso vir agora uma abordagem mais suave à austeridade, concluindo que a política focada na redução do défice “atingiu os seus limites”.

Tendo-se hoje ficado a saber que a Alemanha foi o único (!) país da Europa a cumprir as metas orçamentais de 3%, a conclusão de que o projecto europeu e as metas impostas pela Alemanha são cumpridas apenas por esse país, Durão teve que constatar o que era óbvio: as políticas de austeridade não só não combatem o défice como o agravam, tendo ainda como efeito destruir as economias e as vidas das populações. Os países intervencionados tiveram os défices mais agravados, segundo o Eurostat: Espanha (10,6%), Grécia (10%), Irlanda (7,6%), Portugal (6,4%) e Chipre (6,3%).

Mas rapidamente realinhou o discurso, tendo ficado como contradição máxima da Comissão a declaração do seu presidente que diz que os povos dos países sob intervenção  consideram que “os problemas que têm não foram criados por si, mas por alguém, regra geral Berlim ou as instituições europeias ou o Fundo Monetário Internacional”, o que, segundo Barroso, não é verdade.

Perante o insucesso da austeridade, Barroso faz algo que muitos comentadores têm feito: invoca problemas de comunicação, dizendo que a austeridade não funcionou porque não teve aceitação social, porque não se conseguiu explicar aos cidadãos “o que estava em jogo”, “É aqui que acho que não fizemos tudo certo. Não fomos capazes, colectivamente – instituições europeias e estados-membros –, de explicar o que estava em jogo e construir o apoio necessário”. Perante a clareza dos dados económicos em queda livre e pela degradação política, o presidente da Comissão Europeia varre as suas políticas para debaixo do tapete, sem assumir responsabilidade. A incoerência e contraditoriedade dentro discurso de hoje e mesmo em relação a discursos de ontem, assim como a acção política de Barroso são claros. 2014 é ano de escolhas de presidente para a Comissão Europeia, e é preciso dourar a pílula para continuar a forçá-la garganta abaixo dos europeus.

Artigo Público:http://www.publico.pt/economia/noticia/barroso-politica-de-austeridade-atingiu-o-limite-1592123

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