Da Troika, nada de novo

Selassie líder da missão da troika em Portugal

Já são mais de 700 as escolas que fecharam por não haver dinheiro para pagar aos professores e funcionários. As que restam são obrigadas a lutar por dar uma educação de qualidade às crianças de Portugal com cada vez menos recursos materiais e humanos e mais alunos por turma. Os Centros de Novas Oportunidades encerram, as aulas para adultos tornam-se miragens por falta de fundos e a cultura perde não só um ministério como vê as taxas a aumentarem e os apoios a desaparecerem. Os bolseiros de investigação, aqueles que estão a liderar as suas áreas no que toca à investigação, vêem-se sem pagamento há vários meses, além de lhes ser negado o acesso a direitos laborais que deveriam ser básicos, como férias, descontos para a Segurança Social, acesso a subsídio de desemprego e o pagamento de juros de mora por atraso nos salários. E no entanto, agora Abebe Selassie, líder da missão da Troika em Portugal, vem agora argumentar que é preciso apostar na educação e na inovação para corrigir a falta de competitividade da economia portuguesa. Nós concordamos; não compreendemos é a necessidade constante, muito à laia da Parque Escolar, de destruir o que já existia para depois se reconstruir do zero, estivesse o já pré-existente estragado ou não.

Selassie acrescenta que a culpa do desemprego elevado será da dificuldade que as empresas têm em controlar os custos. Ora os salários milionários de gestores não estão regulados por lei, pelo que cabe aos directores das empresas renegociarem contratos e baixarem os seus próprios salários. Portanto quando se referem à dificuldade em controlar os custos, presumimos que a Troika se refira aos impostos cada vez mais altos (e dos quais só os mais ricos são isentos como a Mota-Engil ou o Rock in Rio), às portagens que aumentam o preço das matérias-primas, ao preço da gasolina e outros que tais. É que o salário mínimo ainda está, felizmente, definido por lei, portanto não pode ser a isso que a Abebe Selassie se referia quando fala em cortar salários nominais, pois isso só contribuiria para a disseminação da fome e da miséria, que já tocam a trabalhadores cujos salários não chegam para os mínimos de uma vida digna.
No que toca ao aumento do desemprego, classificado pelo próprio representante da Troika como “recente, inesperado e acentuado”, a solução apresentada é… ajustar as expectativas. Não há dúvidas de que com este programa o desemprego vai continuar a aumentar, portanto revendo esse aumento em alta deixa de haver surpresas e passa a estar tudo de acordo com o plano. Sendo que o plano, neste caso, é continuar a empobrecer os cidadãos e a piorar as suas condições de vida. Da Troika, nada de novo.
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