Das programm

Foi apenas há dois dias que Angela Merkel avançou uma vez mais na consolidação de um programa que tem para a Europa. A exigência da perda de soberania é parte do programa político que cada vez mais revela contornos de dominação e submissão, não só para os povos da Europa, como também para o povo alemão. Afirmando que quer romper com o passado, a Chanceler aproxima-se cada vez mais dele.

Angela 

O programa de Merkel é elaborado em estrita colaboração com o Banco Central Europeu e com a própria Comissão Europeia, e cada vez mais é perceptível que se baseará naquilo que o próprio Durão Barroso destacava esta semana quando falava dos limites da austeridade: o chauvinismo e o racismo entre os povos da Europa, atirados uns contra os outros.

Para manter o povo alemão contra os povos das periferias, Merkel tem recorrentemente utilizado a retórica dos “preguiçosos” dos países solarengos, que não sabem produzir. Como dizia um enviado do ministério do Trabalho alemão na Grécia há um ano atrás “um trabalhador alemão vale por três trabalhadores gregos”. Esta é a base na qual se vai planificando uma nova Europa, atirando trabalhadores contra trabalhadores e explorando, como há décadas atrás, o preconceito e um falso moralismo para destruir a solidariedade e a igualdade. É nesta base que Merkel tentará a reeleição em Setembro e a continuação da política austeritária para a União Europeia.

Foi para continuar a forçar essa perspectiva que a imprensa internacional fez eco de um relatório do Banco Central Europeu que afirmava que os trabalhadores da Alemanha eram mais pobres do que os trabalhadores de Espanha, Grécia ou Portugal. A peça do Der Spiegel chamou-se “A mentira da pobreza. Como os países em crise na Europa escondem a sua riqueza”. Não totalmente concordante com as conclusões do BCE, o artigo acabava por defender que o relatório provava que os alemães pobres estavam a pagar o resgate da Europa do Sul. Este artigo defendia a solução cipriota para todos os países sob a troika: capturar os bens dos cidadãos para pagar a dívida. O plano que já foi assumido e desmentido mais que uma vez, mas que infelizmente deverá tornar-se regra para continuar o saque aos países intervencionados.

No entanto, a interpretação dos dados divulgados permitiu a muitos analistas e cientistas desconstruir a ficção de que a Alemanha está a sustentar os países do Sul, acabando por poder-se verificar algo que tem pouca percepção pública: a Alemanha é um país extremamente desigual no qual há muitas pessoas muito pobres e poucas pessoas muitíssimo ricas.

Foi através de truques econométricos que o BCE apresentou as suas conclusões, com extrapolações que violam vários princípios científicos e com manipulação de linguagem, comparando médias com medianas e evitando fazer avaliações de distribuição de riqueza dentro dos países. Não é no entanto de espantar que um país como a Alemanha, onde as reformas laborais levaram a que mais de 37% da força de trabalho seja precária, em que um em cada cinco trabalhadores trabalhem a “mini-jobs” em que recebem no máximo 400 euros por mês, seja um país extremamente desigual. O congelamento dos salários está em vigor basicamente há 10 anos, pelo que a Alemanha impõe o empobrecimento ao seu povo e a partir daí impõe-no também aos restantes povos. A concentração de riqueza na Alemanha está totalmente localizada nos mais ricos, estando a maior parte da riqueza não nas famílias, mas sim no sector empresarial e financeiro.

É este o modelo que Merkel quer impor para a Europa. Um modelo que não interessa a nenhum povo europeu, nem a quem trabalha na Alemanha. O modelo de Merkel é um modelo contra o seu povo e contra os outros todos, a favor dos sectores mais ricos em cada um dos países. Para este modelo, exige que os países abdiquem de soberania e se curvem, não perante a Alemanha, mas perante a própria Chanceler. Esse é o programa.

 

http://www.publico.pt/economia/noticia/merkel-diz-que-paises-do-euro-devem-estar-preparados-para-ceder-soberania-1592142

http://www.spiegel.de/international/europe/poor-germany-it-is-time-for-a-debate-on-euro-crisis-burden-sharing-a-894398.html

http://www.social-europe.eu/2013/04/are-germans-really-poorer-than-spaniards-italians-and-greeks/

 

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