Deixem o morto enterrado
Na senda das verdades de La Palisse hoje ouvimos cada vez mais pessoas dizer: é aos mais pobres e precários que se impõe o custo da austeridade e da troika, algo para o que vimos alertando antes ainda da chegada da troika, com os PECs. Mas hoje o objectivo das notícias vindas a público através do Jornal de Negócios é voltar a insistir numa narrativa derrotada há muito, a da “Guerra das Gerações”.
Meses ou anos depois do que há muito vimos anunciando, hoje alguma imprensa vem informar que é aos mais precários e jovens que é imposta a maior fatia da austeridade. Uma verdade clara, mas que esconde outro fenómeno que é a base da acção da troika: neste momento todas as pessoas que trabalham estão a ser empurradas para a precariedade.
O ajustamento salarial, ao contrário do que defende o jornal, não está a ser feito à custa dos jovens e dos trabalhadores com vínculos laborais precários, senão através da precarização de toda a classe trabalhadora. Tal como revelámos em Dezembro de 2012, há um declínio acentuado dos vínculos estáveis, que só se veio a agravar no último semestre.
A redução salarial é consequência da precarização de toda a força de trabalho, é a força motriz por trás dos ataques aos sindicatos, à destruição da contratação colectiva, às alterações laborais e tem como consequência atacar todas as pessoas que trabalham. A redução salarial através da precarização é um dos (senão O) principais pilares do regime de austeridade. Os precários e os mais jovens são aqueles mais afectados no imediato, para se poder chantagear os restantes que já se estão a tornar uma minoria, tal como se chantageiam os precários com mais de um milhão e meio de desempregados, para deixarem de reclamar contra a precariedade.
O Jornal de Negócios tenta portanto ressuscitar o morto da “Guerra de Gerações”, afirmando a divisão do mercado de trabalho entre funcionários velhos integrados nos quadros e jovens precários, austerizados. Mas a verdade é outra. O que é necessário é atacar a austeridade, a precarização e o desmantelamento dos direitos sociais e do trabalho. Porque a corrida para o precipício preconizada por esta noção de “dividir para reinar” só acaba num sítio: o fundo do poço.
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