Demagogia para Tótós, por Nuno Crato

demagogiapara totósA veia da pedagógica do antigo professor Nuno Crato, hoje ministro da Educação, continua latente. Nos últimos dias tem dado uma lição sobre o significado de demagogia: o ministro que deu ordem para encerrar 536 escolas primárias, criou 235 mega-agrupamentos, muitos com mais de 3 mil alunos e mais de 20 escolas sob a mesma direcção, executou o despedimento colectivo de quinze mil professores, empurrou outros milhares de professores para reformas antecipadas com penalizações e criou 12 mil vagas negativas para professores, vem dizendo nos últimos dias que está a defender os alunos dos professores.

O matemático está a esforçar-se além de tudo o imaginável para tentar deslegitimar a greve dos professores que se vêm confrontados com a destruição da sua profissão. A evolução do desemprego na docência mostra já hoje que o número de professores desempregados quadruplicou desde 2010. Mas isso não detém o ministro Crato, que vem a público ensinar o significado da demagogia, o “dividir para reinar”, tentando atirar contra os professores o resto dos funcionários, os pais e os alunos.

Depois do esforço massivo levado a cabo pelo ministro para conseguir desmantelar a escola pública, Crato afirmou no Parlamento sobre os exames “Com esta situação não se brinca. Era sobre isto que devíamos ter um pacto de regime. Os jovens e as crianças são o objectivo da escola”, acusando os professores de convocarem uma “greve que utiliza como reféns os alunos”. O ministro, que mantém todo o sistema educativo como refém, deu um entrevista para a revista brasileira Veja defendendo um sistema de ensino similar ao do século XVIII, de memorização, castigo e estratificação social, contrário aos imperativos constitucionais e da legislação da educação pública. O único caminho para este ministro é a demissão.

Os alunos na Grécia também foram expostos a demagogia barata sobre as greves dos seus professores e professoras em lutas. Eis a sua resposta:

“Vocês dizem que os meus professores vão destruir os meus sonhos fazendo greve. Quem vos disse alguma vez que o meu sonho é ser mais um desempregado entre os 67% de jovens que estão no desemprego? Quem vos disse que o meu sonho é trabalhar sem segurança social e sem horários regulares por 350 euros por mês, como determinam as vossas mais recentes alterações às leis laborais? Quem vos disse que o meu sonho é emigrar por razões económicas? Quem vos disse que o meu sonho é ser moço de recados? (…)

Professores, vocês NÃO devem recuar um único passo no vosso compromisso connosco. Se recuarem agora na vossa luta, então sim, estarão verdadeiramente a pôr em causa o meu futuro. Estarão a hipotecá-lo.”

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