do jornal "Público" de hoje – 3
Quem dá a cara pelos precários
Uns lamentam que não haja ASAE nas empresas, outros queixam-se da esquizofrenia do país e do excesso de desregulamentação e alguns lembram os bolseiros
Ferve- Fartos de Estes Recibos Verdes
O Ferve foi fundado no Porto, há um ano, por André Soares e Cristina Andrade, e há menos de um mês entregaram no Parlamento uma petição para que seja travada a contratação de recibos verdes no Estado e nos privados. André Soares, jornalista de 28 anos, sublinha a gravidade da situação: “Um quinto da população activa está a recibo verde, este é o problema.” E explica que “as pessoas querem é trabalhar, aceitam qualquer coisa, não estão preocupados com direitos sociais, pois muitos nem os conhecem”. Formado para dar visibilidade ao problema, o FERVE começou a falar de casos concretos e pôs as pessoas a falarem das suas experiências através de um blogue. “O FERVE não existe para mostrar que somos rebeldes e vimos para a rua. O que está em causa é a esquizofrenia de um país que tem licenciados altamente preparados, que investe na formação das pessoas e depois manda-as embora. Por 500 ou até 800 euros por mês e sem vínculo, ninguém se sente estimulado para investir numa carreira”, conclui. (http://fartosdestesrecibosverdes.blogspot.com)
Precários Inflexíveis
É o mais recente dos movimentos. Surgiu há menos de um ano para dar visibilidade aos problemas aos precários. João Pacheco, de 27 anos, é um dos seus activistas. Explica: “A minha actividade é o jornalismo, mas sinto-me mais identificado com problemas de outros precários, do que com os jornalistas que têm direitos. Gostaria muito de ter as mesmas prioridades dos inscritos no sindicato, mas, neste momento, a minha prioridade é saber quanto vou ganhar.” Alerta para que “há uma multidão de portugueses que estão em situação de precariedade” já que, “hoje, até os médicos nos hospitais trabalham à jorna”. E defende: “Quando a situação económica é muito complicada e as pessoas não conseguem aplicar a lei na sua empresa, então devem fechar a empresa. Se tiver um restaurante e não tiver dinheiro para carne e servir sola de sapato, a ASAE fecha-mo. Nas empresas não há ASAE.” (http://precariosinflexiveis.blogspot.com)
Intermitentes do Espectáculo
Movimento constituído há um ano e meio que reúne doze organizações (duas são sindicatos) de trabalhadores das artes e espectáculos. Sobre a sua luta, Bruno Morais Cabral, técnico de cinema e realizador de documentários de 27 anos, diz: “Precisamos de um regime mais exigente que garanta direitos laborais e sociais.” E afirma que “o recibo verde é a forma mais irresponsável de estabelecer uma relação laboral, pois da parte do Estado e do empregador não há qualquer responsabilidade.”
Os Intermitentes criticam a recente revisão da lei, pois o PS recusou a “equiparação de direitos”. E lamenta: “A ideologia é cada vez mais a da desregulamentação, quando era preciso muito pouco para resolver os problemas reais.”
ABIC – Associação dos Bolseiros de Investigação Científica
A ABIC nasceu em 2002 e formalizou-se em 2003, conta André Levy, bolseiro de 27 anos. Este movimento de precário é o único que não integra o May Day, mas desfilam no Primeiro de Maio, como movimento autónomo. “Há cerca de 10 mil bolseiros”, afirma André Levy, que alerta para o facto de que “o estatuto de bolseiro não é de trabalhador, este deve ser um período transitório para formação”. Só que, prossegue, “a forma como as bolsas são usadas é como se fosse trabalho”. Isto porque “há pessoas que são bolseiros anos a fio, até 10 anos”. Ora, “os bolseiros de longo curso são trabalhadores sem direitos, nem podem inscrever-se no seguro de saúde da Fundação para a Ciência e a Tecnologia”. (www.abic-online.org)”