"É preciso falar verdade aos Portugueses"

Nós partilhamos com Cavaco o gosto pela verdade… essa noção tão relativa quanto disputada que saindo da boca do nosso Presidente mais parece um sermão episcopal do que uma tentativa séria de se avaliarem responsabilidades. 11% de desempregados, mais 1,5 milhão de precários e precárias, e uma geração que já nem 500€ pode esperar ao abordar um emprego, tudo isto exige análise das responsabilidades pelas opções tomadas.
Números divulgados pelo Expresso de ontem, apontam uma subida constante do desemprego nos últimos 35 anos. A notícia foi dada com base em números do INE e da Pordata, de Soares dos Santos (agora também vende estatísticas?). Os economistas citados, José Reis e Eugénio Rosa, afirmam algo que hoje, cada vez mais, parece de senso comum: as medidas assinadas por PS e PSD nos PEC (e certamente as que estão a ser cozinhadas hoje para o orçamento de Estado) agravam a situação económica do país, elas são recessivas e vão aprofundar a crise. Estas medidas são uma resposta à crise de acumulação dos bancos e do capital que rebentou com a crise do sub-prime. Os governos estão a colocar a corda no pescoço das pessoas para salvar o pescoço dos banqueiros.
Mas Cavaco diz que se deve falar a verdade sobre desemprego. Poderia também dizer que durante o período em que foi primeiro-ministro de Portugal, Cavaco Silva teve à sua disposição muitos milhões de escudos do fundo estrutural da CEE  para refundar a economia de um país atrasado pelo fechamento e projectar um país que se desenvolvesse pelo conhecimento e tecnologia, e assim, permitisse às próximas gerações uma vida digna e perspectiva de futuro, de prosperidade e de solidariedade social. No entanto a sua opção principal foi criar clientelas privadas. Algumas das suas principais opções foram a privatização de empresas públicas. Cavaco obteve mais de 1200 mil milhões de escudos — mais de 9% do PNB — de 1989 até à primeira metade de 1995 e transformou Portugal no terceiro maior privatizador de serviços ou empresas públiicas na OCDE, depois do Reino Unido e da Nova Zelândia (FMI, 1985, 14). Boa parte das privatizações de Cavaco fez com que as famílias que na ditatura detinham o controlo de boa parte da economia portuguesa voltassem a ter o controlo da economia. Espírito Santo, Mello, Champalimaud foram intervenientes fortes de braço dado a Cavaco Silva.
Em seguida, o governo PS com Sousa Franco como Ministro das Finanças avançou em 1996 para um plano de  «privatizações rápidas e intensivas». 22 empresas públicas foram vendidas (no total ou em parte) o que permitiu um encaixe de 380 mil milhões de escudos aplicados na sua maioria, na redução da dívida pública. 
Ontem como hoje, PS e PSD, Cavaco, Guterres, Sócrates e seus companheiros, percorreram um caminho que destruiu serviços públicos essenciais e retirou ao Estado, ou seja, ao colectivo, a capacidade de se organizar para o bem estar da maioria. Hoje, a economia portuguesa  destrói esperanças, destrói trabalho, acaba com a solidariedade e está ao desmandando de Soares dos Santos (que já “vendem” estatísticas), Mellos e outros caciques de bastidores, com a programação financeira e económica nas mãos de banqueiros e de um sector financeiro que só procura o lucro, os prémios, os offshores, a renda.
Nós também achamos que é importante dizer a verdade, mas a responsabilidade não pode ficar de fora.
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