Ele tinha um sonho

O José Sócrates está muito feliz.
Portugal investiu 1,5% do PIB em Investigação.
Disse que era do tempo em que passar do 1% era apenas um sonho.

O Mariano Gago está contente.
Portugal tem mais investigadores por habitantes que a média europeia.
A produção científica aumentou.
Disse que é histórico.

Para os bolseiros a história é outra.

Há mais dinheiro para distribuir a muitos mais investigadores que publicam mais artigos. Há, sim senhor.
Mas, para que as 8 mil publicações científicas sejam produzidas anualmente o Governo escolheu a via da massificação, do aumento desnorteado da quantidade de bolsas e bolseiros.
Como não há dinheiro para tudo, este grande número de bolsas (10 mil) é feito à custa da ausência de direitos e de aumentos nos valores das bolsas. Perdemos 20% de poder de compra em 7 anos! Não temos subsídio de desemprego, férias nem Natal!

Para sermos o 16º (ena, ena) país europeu com maior número de artigos publicados, inventou-se a ciência “low cost”.

E quem não quiser participar nela, que vá fazer investigação para longe daqui.

Eu sou do tempo em que existem 40 mil licenciados/as inscritos no centro de emprego. 2/3 são mulheres.
Sou da geração em que a precarização e mercantilização da ciência afecta a qualidade da ciência que se faz e que a figura de bolseiro é só mais uma maneira de não nos respeitarem.

E isso envergonha-me.

Os bolseiros produzem trabalho científico, são aqueles que trazem conhecimento, inovação e novas mais-valias ao país.

Recebemos um obrigado e uma palmadinha nas costas.
De nada.
Agora queremos direitos.

Bibliografia

ABIC, 2009 “Bolseiros de Investigação perderam 20 por cento de poder de compra em sete anos”


GPEARI, 2009 “A procura de emprego dos diplomados com habilitação superior”


GPEARI, 2009 “Produção Científica Portuguesa, 1990 – 2008”


Lusa, 2009 “Sócrates congratula-se com potencial tecnológico”

Hugo Evangelista

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