Encontro de bolseiros denuncia expulsão de quadros técnicos e anuncia realização de roteiro contra a precariedade na investigação
No encontro de bolseiros realizado hoje no ISCTE avaliou-se o “Estado da Arte” da Investigação, nas suas vertentes de precarização e desinvestimento. Perante os cortes massivos nas bolsas de doutoramento e pós-doutoramento, o Governo promove o exílio dos mais valiosos quadros técnicos do país. A Associação de Combate à Precariedade lançará a partir deste encontro um Roteiro Contra a Precariedade na Investigação por vários centros de investigação e faculdades do país.
O encontro “Fartos de Andar de Bolsa em Bolsa”, organizado hoje pela Associação de Combate à Precariedade – Precários Inflexíveis com o apoio da Associação de Estudantes do ISCTE-IUL reuniu dezenas de bolseiros para uma avaliação geral da Investigação, da Ciência e da precarização dos trabalhadores da investigação. O diagnóstico é bastante preocupante, como revelaram as intervenções.
Manuel Sobrinho Simões, médico e Director do Instituto de Patologia e Imunologia Molecular do Porto afirmou que “o traço mais importante da política em relação à Ciência foi a destruição das instituições”. Segundo Élio Sucena, investigador principal do Instituto Gulbenkian de Ciência “As políticas atuais da FCT decorrem de decisões casuísticas, tomadas no passado recente, sem qualquer estratégia estruturada e planeada para a investigação científica.” Nuno Domingos, investigador no Instituto de Ciências Sociais defendeu que “o que faz sentido é discutir questões orçamentais e de investimento para a questão do estado da investigação em Portugal. A exclusão social desde o pré-escolar até à universidade, a mercantilização do Ensino Superior, não são apenas consequências da crise, são políticas globais implementadas por Nuno Crato, ministro do ‘apartheid social’”.
Cristina Lobo Ferreira, jurista da Direcção Geral da Segurança Social, no painel que partilhou com o professor Alan Stoleroff, discutiu com os presentes as implicações e consequências para os bolseiros da passagem de bolsas de investigação para contratos de trabalho, enquanto Inês Milagre, investigadora de pós-doutoramento em Cambridge apresentou a situação da investigação noutros países, onde predomina o contrato de trabalho para os investigadores e trabalhadores em Ciência.
O impacto das políticas de austeridade sobre a investigação e sobre a precarização dos investigadores é devastador: desde 2011 houve um corte de 14% no Orçamento do Estado para a Fundação para a Ciência e Tecnologia e de 30% para as universidades.
Em 2012 houve 1198 bolsas de doutoramento e 677 bolsas de pós-doutoramento. O concurso de bolsas individuais cujos resultados serão anunciados nos próximos dias vai atribuir cerca de 300 bolsas de doutoramento e 100 de pós-doutoramento. Este retrocesso significa o abandono declarado da investigação e promoverá um êxodo dos quadros técnicos mais qualificados do país.
Deste encontro, em que investigadores, bolseiros e comissões de bolseiros presentes trocaram experiências de luta e perspectivas futuras, a Associação de Combate à Precariedade – Precários Inflexíveis lançará um Roteiro Contra a Precariedade na Investigação, contactando Faculdades, Centros e Institutos de Investigação para levantar os problemas e respostas necessárias para juntar trabalhadores precários na investigação e bolseiros.
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